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Os Piores Filmes de 2011

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Como meu amigo Artiles Reis já disse, eu vejo todo tipo de filme. E é verdade! Com exceção da maioria dos filmes de terror (que não faço muita questão de ver), eu tenho esse hábito de assistir quase todo filme que baixo com o mesmo empenho com que vejo Cidadão Kane todo ano, religiosamente. Talvez por este hábito típico de um cinéfilo muitas vezes me deparo com verdadeiras bombas que ao menos me trazem a possibilidade de escrever esta lista: os piores filmes do ano! E convenhamos, é muito mais divertido escrever uma lista com os piores filmes do que ficar procurando filmes "de arte" bons o bastante para figurar entre os melhores. Sendo assim, vamos aos piores filmes que vi este ano (e um que não vi, mas é ruim mesmo, nem venham discutir):

Cartaz climático, filme apático
10. A Coisa - Uma decepção daquelas. Se o filme de John Carpenter de 1982 (O Enigma de Outro Mundo) é um terrorzão de ficção científica com um clima tenso e uma criatura tenebrosa, este prelúdio ao clássico da década de 80 se mostrou uma frustração e uma prova de que não adianta investir 30 milhões de dólares em um filme desses sem que tanta grana esteja nas mãos de pessoas talentosas. Que saudade da genialidade de John Carpenter!

9. Eu queria ter a sua vida - Comédia sobre troca de corpos? Isso é trama velha até no Brasil!

Alegria é ter uma scooter!
8. Larry Crowne - O amor está de volta - Aparentemente, não tinha como dar errado: Tom Hanks de volta à direção e ainda estrelando o filme juntamente com Julia Roberts, fazendo um casal em uma comédia romântica? Até posso ver os olhos dos executivos brilhando, pensando nos milhões arrecadados. Doce ilusão! Larry Crowne é a prova de que as coisas não são mais como antigamente em Hollywood. Nenhum filme se sustenta mais somente pelo fato de ter um elenco estelar. A força está na ideia, ou na familiaridade do público com a história, o que acontece com adaptações de livros ou quadrinhos. No final das contas, esta comédia sem graça tenta se sustentar em uma ou duas cenas bacanas, mas não cria nenhuma empatia com o público. Seu protagonista em nenhum momento faz com que a audiência torça por ele, e o beijo do casal no fim (oh, spoiler, foi mal aí) não emociona nem aquela balzaquiana solteirona, com as emoções à flor da pele. Bomba total.

O pior uso de CG do ano
7. Lanterna Verde - Com um personagem interessante nas mãos, mas uma execução pífia, este filme de super-herói poderia tirar a DC do ciclo Superman-Batman nas adaptações cinematográficas. Entretanto, o que se tem é um daqueles filmes absolutamente descartáveis que acerta em algumas (poucas) coisas e erra na maior parte da projeção. Se a criação do mundo de Oa, planeta dos guardiões, é de encher os olhos, a atuação desinteressada de Ryan Reynolds é medíocre - como é que um cara comum recebe um anel com poderes quase infinitos e se adapta a ele como quem compra um celular e logo aprende a usá-lo? Entre outros fatores, este filme está nesta lista simplesmente por não funcionar em sua totalidade. E olha que eu botava fé nele, a despeito de todos os outros fãs estarem muito desconfiados. Maldita ingenuidade!

Não podiam ter se contentado com um filme?
6. Se beber, não case Parte 2 - Tá brincando? Os caras fazem exatamente o mesmo filme, com exceção do cenário diferente (troca-se Las Vegas por Bangkok), e ainda querem receber elogios? Mais caça-níqueis impossível!

5. Sucker Punch - Mundo Surreal - Este era para ser o filme mais pessoal de Zack Snyder (300, Watchmen, Madrugada dos Mortos), mas no fim se tornou aquele filme que alguns fãs querem tornar cult a todo custo, mesmo sendo uma tremenda decepção! Durante a divulgação do filme, os trailers mostravam cenas fantásticas, com cenários de videogame, ação insana e mulheres fatais no melhor estilo Sin City. Mas com uma trama rala (ou a completa ausência dela), Sucker Punch não passa de um delírio mal descrito. Se Snyder escolhesse retirar toda aquela fraca trama no hospício e desenvolvesse uma daquelas subtramas contadas na mente da protagonista, talvez desse para retirar o filme desta lista. Ele não fez isso, deu no que deu: fracasso de público e crítica.

Ela é bonita, ok. Mas o filme...
4. Professora Sem Classe - Mais uma comédia insossa fazendo parte da lista. Quem achava que Cameron Diaz voltaria ao estrelato com esta tentativa de criar um ícone dos anti-heróis, certamente pensou melhor depois de assistir - a duras penas - os 90 torturantes minutos com a história desta "professora" insuportável que não consegue a simpatia do público nem por um segundo.

Cilada é ver este filme


3. Cilada.com - Se tinha que existir um representante do nosso querido cinema nacional por aqui, este tem que ser Cilada.com. Se na TV o programa Cilada apresentava situações incômodas interessantes e divertidas, a transição para o cinema mostrou o quanto um ego inflado pode ser ruim para um comediante. Com piadas à la Zorra Total e um machismo quase patológico, o filme (?) com Bruno Mazzeo é um insulto à inteligência até dos fãs do humorístico global citado anteriormente. Pensando bem... Não. Eles vão gostar.

2. Cowboys & Aliens - É impressionante como Jon Favreau, dirigindo Daniel Craig e Harrison Ford, possa ter errado tanto com um filme. Esta aventura que mistura western com ficção científica até começa bem, com o misterioso primeiro ato, mas depois que aliens invadem o planeta, tudo degringola e se torna um "samba do vaqueiro doido". É o segundo da lista por ser a maior decepção do ano!

É ou não um dos piores cartazes do ano?
1. Reféns - Nicolas Cage e Nicole Kidman devem ter agentes bem ruins mesmo. O primeiro alterna papeis risíveis com atuações poderosas em filmes poderosos: primeiro ele arrebenta em Vício Frenético para depois fazer filmes ridículos como Caça às Bruxas ou este Reféns. Já Nicole Kidman raramente aparece em algum filme interessante, como em Reencontrando a Felicidade. Ela é a atriz mais bem paga de Hollywood, mas que não dá lucro algum há muito tempo. Já esta pérola de thriller chamado Reféns é uma verdadeira bomba, daquelas que lançam estilhaços por todos os lados. Ninguém fica ileso de culpa por este arremedo de filme. Pior do ano fácil, fácil.







Os atores do filme fazem isso o filme inteiro

MENÇÃO HONROSA - HORS CONCOURS

A Saga Crepúsculo: Amanhecer Parte 1  - E pensar que vampiros já foram cool. Com um fiapo de história que se arrasta desde o primeiro filme, a última parte da série "mamãe-quero-ser-Harry-Potter" não se contenta em desfilar seus pseudodiálogos em apenas um filme, obrigando as fãs enlouquecidas a pagarem novos ingressos (novos porque elas não veem o filme apenas uma vez) pela segunda parte do último livro! Coloco o filme como menção honrosa simplesmente pelo fato de ser esta franquia apenas algo tipicamente "feito para fãs", logo, não vale a pena resenhar. Mas é que falas como estas deviam ser proibidas: -Te encontro no altar. -Serei aquela de branco.
Argh.

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Novo trailer de Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge no ar!

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Ainda faltam seis meses para a estreia do 3º e último capítulo da saga de Batman nas mãos de Christopher Nolan, e a Warner liberou o novo trailer do filme para deixar todo mundo roendo as unhas de ansiedade!

Confira e espere a estreia, que acontecerá em 20 de julho de 2012.

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Os 10 melhores filmes de 2011 segundo a Sight & Sound

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A prestigiada revista britânica Sight & Sound divulgou sua lista de melhores filmes do ano. Como toda lista, há controvérsias nas escolhas. Uma característica marcante da lista é a presença de vários filmes não-americanos. Veja a lista e tire suas conclusões. As minhas estão logo abaixo.



1. A Árvore da Vida (The Tree of Life, de Terence Malick, EUA)

2. A Separação (Jodadeiye Nader az Simin, de Asgar Farhadi, Irã)

3. O Garoto de Bicicleta (Le gamin au vélo, de Jean-Pierre & Luc Dardenne, Bélgica/França/Itália)

4. Melancolia (Melancholia, de Lars von Trier, Dinamarca/Suécia/França/Alemanha/Itália)

5. The Artist (de Michel Hazanavicius, França)

6. Once Upon a Time in Anatolia (Bir Zamanlar, Anadolu'da, de Nuri Bilge Ceylan, Turquia/Bósnia e Herzegovina)

7. O Cavalo de Turim (A torinói ló, de Bela Tarr, Hungria/Suíça/Alemanha/França/EUA)

8. Temos de Falar Sobre Kevin (We Need to Talk About Kevin, de Lynne Ramsay, Inglaterra/EUA)

9. Le Quattro Volte (de Michelangelo Frammartino, Itália/Alemanha/Suíça)

10. Isto não é um filme (In film nist, de Jafar Panahi, Irã) e O Espião que Sabia Demais (Tinker Tailor Soldier Spy, de Tomas Alfredson, Inglaterra/França/Alemanha)

Os filmes nas posições 6, 7 e 9, devo confessar que ouvi falar agora, lendo a lista. Quanto a O Garoto de Bicicleta, já vi e escreverei minha resenha em breve, mas já posso adiantar que é um bom filme com ressalvas. Temos de Falar Sobre Kevin devo assistir esta semana, e aguardo ansiosamente, assim A Separação, filme do qual só tenho boas recomendações. 
The Artist é um desses filmes que surgem uma vez na vida da gente e causam uma vontade louca de assistir. Primeiro porque trata-se de um filme mudo em pleno século XXI, depois por ter sido aclamado em quase todas as listas de melhores do ano. Ainda não vi, mas mal posso esperar!
O filme de Lars von Trier, Melancolia, também não assisti, mas estou esperando o momento certo. Não é fácil ver filmes do diretor sueco amalucado, genial para uns, fraude para outros.
Quanto à posição de A Árvore da Vida como melhor filme do ano não é de admirar, visto ser o filme de Terence Malick o queridinho da crítica em todo o mundo. Já expus minha opinião sobre este filme, mas admito que preciso vê-lo novamente para poder captar melhor nuances que certamente deixei escapar. Ninguém entenderá este filme completamente na primeira sessão. A questão é: merece estar no topo da lista? Por várias razões, considero ser este um dos 10 melhores filmes do ano, mas nº 1? Fica a questão.

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Histórias Cruzadas

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Pequeno filme sobre empregadas negras americanas nos anos 60 é pérola a ser descoberta

A luta pelos direitos civis dos negros do sul dos EUA e o cotidiano das famílias negras americanas já rendeu bons filmes, sendo alguns deles inesquecíveis, como A Cor Púrpura, que Steven Spielberg dirigiu em 1985. Quando todos pensavam que não havia mais nada a ser dito sobre esta questão, eis que o diretor Tate Taylor lança Histórias Cruzadas (The Help, EUA, 2011), um filme despretensioso que arrebatou o público e já rendeu até o momento 169 milhões de dólares (o orçamento foi de 25 milhões).
Tamanha comoção pode ser perfeitamente compreendida quando assistimos ao filme. Com um ritmo envolvente e atuações espetaculares de Viola Davis, Octavia Spencer e Emma Stone, a história de empregadas negras americanas que são convencidas por uma garota branca aspirante a escritora a relatarem suas vidas e seu cotidiano, é capaz de emocionar sem jamais apelar para pieguices recorrentes nos dramas sobre direitos civis.
Em pleno estado do Mississippi nos anos 60, Skeeter (Emma Stone) é uma jovem solteira recém-formada que retorna à cidade de Jackson. Determinada a se tornar uma escritora, ela causa polêmica ao decidir entrevistar a empregada de uma de suas amigas. Aibileen (Viola Davis), a empregada em questão, é uma típica descendente de escravos sulistas: sua mãe foi empregada, e sua avó era escrava doméstica. Muitas crianças brancas foram criadas por ela, crianças que sempre eram deixadas nas mãos das empregadas enquanto suas mães se distraíam sendo mulheres da sociedade, com seus jogos de bridge e seus brunches. Aibileen aceita ser entrevistada e começa a relatar sua vida e tudo o que já sofreu. Logo se junta a ela Minny (Octavia Spencer), outra empregada que foi demitida ao não aceitar usar o banheiro exclusivo para negros na casa dos patrões.
Muitas coisas podem ser ditas sobre Histórias Cruzadas. Como o título nacional deixa claro, são várias as histórias se entrelaçando e atraindo o espectador, que se sente desejoso de acompanhar cada uma delas. Os personagens interessantes e marcantes surgem um após o outro e o elenco não permite que o filme fique desinteressante em nenhum momento. Além das atrizes já destacadas, o elenco ainda tem Bryce Dallas-Howard, Jessica Chastain, Sissy Spacek e Ahna O'Reilly. Elenco de apelo feminino, nota-se, principalmente por tratar-se de um filme que não se limita nas histórias das mulheres negras, mas também retrata a pressão que as brancas sofriam para engravidar e cumprir todas as convenções sociais que lhes convinham.
O trabalho de Tate Taylor cumpre com perfeição todos os critérios para que um filme toque o coração do espectador, e pode até arrancas algumas lágrimas dos mais sensíveis. Vale (mesmo) a pena!

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Rastros de Ódio (da série 1001 Filmes)

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Poucos filmes são tão definitivos para a compreensão do que é o cinema quanto Rastros de Ódio (The Searchers, EUA, 1956). Dirigido por John Ford, este clássico é considerado o maior western de todos os tempos, sendo presença em praticamente todas as listas dos 10 maiores filmes da história. Não é acaso nem  capricho da sorte este filme grandioso fazer parte de todas estas listas. Trata-se de uma obra atemporal, bela e incômoda; violenta e serena. O Ethan Edwards interpretado magistralmente por John Wayne é com certeza o personagem mais fascinante da carreira deste ícone do cinema, superando até mesmo o papel que lhe rendeu o Oscar em Bravura Indômita. Ethan é um ex-combatente da Guerra Civil Americana que volta da guerra para o rancho de seu irmão no Texas três anos depois do fim da guerra, esperando estar mais próximo da família e principalmente de sua cunhada, a mulher que ele ama.
O rancho fica em um território que vive sob constante ameaça de índios comanches, e logo no começo do filme os nativos atacam o rancho, massacrando toda a família e levando cativa a filha caçula, Debbie (Natalie Wood). Ethan então embarca em uma jornada para resgatar a sobrinha, uma viagem que dura anos, de modo que ele imagina o pior horror que poderia acontecer a ela: a assimilação total de Debbie pelos comanches, tornando-a igual aos índios odiados por ele. Em um momento icônico do filme, Ethan diz preferir meter uma bala na sobrinha a ter de conviver com a ideia de que ela se tornou uma comanche. Em sua jornada para encontrar Debbie, Ethan conta com a ajuda de Martin (Jeffrey Hunter), mestiço criado como um filho pela família do irmão. E a força do filme está na lenta aproximação de Ethan e Martin. O ex-soldado a princípio rejeita o rapaz, mas eventualmente ele acaba percebendo o valor da coragem e da abnegação de Martin, que deixou tudo para trás a fim de salvar Debbie, a quem ele considera uma irmã.
A porta emoldura a imensidão do deserto nesta história sem heróis
John Ford, diretor famoso por seus westerns, conduz Rastros de Ódio com a grandiosidade digna do cenário, as grandes montanhas texanas, o Monument Valley, cravado no meio do deserto implacável, que são filmadas de modo a amplificar a experiência da solidão desértica. Ford também sobrepõe uma antítese que marcaria gerações de cinéfilos, a contradição entre a civilização representada por Martin e a selvageria incorporada por Ethan, especialmente nas cenas que abrem e fecham o filme, nas quais a porta da casa serve como moldura para a desolada paisagem do deserto; do lado de dentro, está a civilização e do lado de fora encontram-se a dureza e a aspereza de uma vida que não consegue mais se encaixar à modernidade. Do lado de fora está Ethan Edwards.

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Contágio

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Thriller realista mostra que uma epidemia global não é invenção de Hollywood

Atenção: este filme pode causar reações imprevisíveis, como o repentino medo de tocar as pessoas e a imediata perda de vontade de comer carne de porco. Isso porque Contágio (Contagion, EUA, 2011), novo filme de Steven Soderbergh (Erin Brockovich, 11 Homens e um Segredo) é um verdadeiro alerta sobre hábitos que todos nós temos, os quais na maioria das vezes não notamos, que podem gerar consequências indizíveis e terríveis. É claro que Contágio é uma produção de Hollywood, feita por um grande estúdio, planejada para fazer dinheiro, gerar lucro. Mas ainda assim, o thriller não se entrega a clichês do gênero apocalipse, segundo os quais geralmente tem-se um herói - que quase sempre é um sujeito comum - que será o salvador da humanidade, sobrevivendo e encontrando ele/ela mesmo(a) a solução para o problema.
Não aqui. Em Contágio não há um protagonista, ou protagonistas, que tomam a frente da situação e resolvem tudo. O filme mostra as várias pessoas envolvidas na identificação da doença que causa uma epidemia de proporções cataclísmicas e na procura pela cura dessa doença, que é transmitida pelo toque. Com a ajuda de um elenco estelar - ajuda muito um diretor ter muitos amigos astros e estrelas do cinema - vários aspectos da luta contra essa epidemia são mostrados: a paciente zero (Gwyneth Paltrow) e seu marido, que inexplicavelmente é imune (Matt Damon); os cientistas em busca da identificação do vírus e da vacina (Laurence Fishburne, Kate Winslet e Jennifer Ehle); a especialista da OMS - Organização Mundial da Saúde (Marion Cotillard); o militar que quer evitar o pânico nas ruas (Brian Cranston); e o blogueiro investigativo que busca descobrir a verdade sobre o vírus enquanto o governo e as indústrias farmacêuticas tentam ocultá-la (Jude Law).
A maioria dos personagens não interage entre si, mas suas histórias são contadas com muita competência pelo roteiro, que embora não encontre tempo para desenvolver o caráter e a personalidade de cada personagem (até porque não é isso o que está no foco), faz de cada cena um momento tenso, onde nunca sabemos quem irá ficar doente e quem sairá ileso do terror do vírus.
Um ótimo trabalho de Soderbergh, que já soube lidar muito bem com paranoias sociais em Traffic e demonstra com bastante realismo como a humanidade - e seus governantes - lidaria com uma doença terrível e fatal.

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50% - Comédia dramática sobre câncer e amizade

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Um cara descobre que tem câncer, consegue superar a doença e depois escreve um roteiro para um filme baseado em sua experiência. O filme é produzido por Seth Rogen (Ligeiramente Grávidos), que é seu amigo,  que também co-estrela a produção ao lado de Joseph Gordon-Levitt ((500) Dias Com Ela), o ator que fará o personagem baseado em você. A comédia é um sucesso de crítica, torna-se candidata a cult e todos os analistas a apontam como provável indicada ao Oscar. Nada mal, hein?
Foi exatamente o que aconteceu com Will Reiser, o roteirista em questão, que escreveu 50% (50/50, 2011), bela comédia dramática que conta a história de um cara de 27 anos, Adam, que descobre ter um tipo raro de câncer na coluna e precisa aprender a lidar com a doença. Ele não está só. Seu melhor amigo, Kyle, mostra que sua amizade é verdadeira, ao acompanhá-lo durante todo o processo.
Dirigido por Jonathan Levine, um novato que não tinha feito nada digno de nota até agora, 50% é honesto e emocionante sem jamais escorregar na pieguice. Não se trata de um drama concebido em uma sala de reuniões abarrotada de executivos de estúdio, milimetricamente planejado para fazer o público chorar. Antes, o filme conta uma história realmente comovente sem jamais apelar. Não se preocupe, não estamos falando de Marley e Eu.
Há momentos agridoces neste filme, nos quais em um instante você está rindo e no outro está chorando. E isso é o que faz de 50% um belo exemplo de como fazer drama sem esfregar o rosto do público em um balde de mel e tragédias. Talvez este seja o motivo de tamanha aclamação pela crítica. O trabalho de Joseph Gordon-Levitt é primoroso e merece uma indicação a Melhor Ator. Também é emocionante a atuação de Anjelica Huston no papel de Diane, a mãe solitária de Adam. A cena na qual ela leva o filho a uma consulta é uma das mais sinceras do ano. Anna Kendrick (Amor Sem Escalas), como a terapeuta inexperiente de Adam, também está excelente e merece aplausos.
Se há um filme este ano em que pode-se apostar que obterá algumas indicações ao Oscar, 50% é um deles.

Segundo informação do IMDB, o filme sairá no Brasil direto em DVD. Mas é bom aguardar o anúncio dos indicados ao Oscar, pois essa situação pode mudar. É esperar para ver.

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Atração Perigosa

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Ben Affleck segue mostrando seu talento como cineasta

Se como ator Ben Affleck não tem se saído muito bem, com escolhas duvidosas e fracassos retumbantes de crítica e público, como diretor ele tem demonstrado uma consistência pouco vista em Hollywood. Medo da Verdade, de 2007, recebeu críticas entusiasmadas, com sua trama misteriosa e tensa, apesar de não ter atraído o público aos cinemas. Mas com Atração Perigosa (The Town, 2010) Affleck provou que não é cineasta de um filme só. Com uma história envolvente que mistura filmes de assalto com romance e drama de gângster, o astro está em seu ambiente verdadeiro: a cadeira de diretor. Embora tenha sido premiado com o Oscar de Roteiro Original por Gênio Indomável (1997), Affleck ainda se mostrava um astro inconstante, alternando bons e péssimos momentos. Basta lembrar de bombas como Contato de Risco, no qual contracenou com sua então namorada Jennifer Lopez, e quase destruiu sua carreira, tornando-se motivo para piada na Capital do Cinema.
O que pesa a favor de Affleck em Atração Perigosa é a força de seu roteiro. Baseado no romance de Chuck Hogan, Prince of Thieves, o filme conta a história de uma quadrilha especializada em assaltos a bancos e carros-fortes que durante um trabalho leva como refém a gerente de um banco, Claire (Rebecca Hall). Eles a deixam em uma praia, mas depois Doug (Affleck) precisa vigiá-la, pois descobre que ela é moradora do mesmo bairro da quadrilha. Ele acaba envolvendo-se com Claire, que está traumatizada pela situação que experimentou. O envolvimento entre os dois é inevitável, e é notável a transformação pela qual ele passa simplesmente por ter encontrado uma razão para mudar. É claro que nada será fácil para os dois e a trama faz questão de aumentar a tensão até o último assalto da quadrilha, no qual sangue será derramado.
O filme é um retrato de Charlestown, bairro de Boston conhecido como a capital americana de assaltos a banco, onde famílias inteiras vivem do "ofício". Boston é a terra de Affleck, que já a retratou em Medo da Verdade; os filmes do ator/diretor têm sido construídos de modo a mostrar sua cidade, mas nunca de modo elogioso, ufanista. Os bairros que Affleck mostra são filmados de maneira realista, sem maquiagem. Alguns dos  membros do elenco de Atração Perigosa são moradores locais, atores não-profissionais, o que contribui para a veracidade da história contada.
Por tudo isso Atração Perigosa é um filme inteligente e envolvente. Chama a atenção também a atuação de Jeremy Renner (Guerra ao Terror), como James Coughlin, membro da quadrilha de Doug, cujo temperamento explosivo leva toda a gangue a consequências trágicas.

Em tempo: o filme já foi lançado em DVD e Blu-Ray, e encontra-se sendo exibido na TV paga, pela HBO.

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Drive - Filme de ação com cérebro

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Não é coisa comum um filme de ação que privilegie os personagens e que não tem pressa de mostrar perseguições e explosões, preferindo construir a ação gradualmente sem esquecer que um filme deve contar uma história. Assim é Drive (2011), que recebeu o prêmio de Melhor Direção no Festival de Cannes, fato raríssimo para filmes do gênero. O prêmio é merecido, pois o trabalho do dinamarquês Nicholas Winding Refn é primoroso. Trata-se de uma retomada do clássico herói-sem-nome, típico personagem da filmografia de Clint Eastwood. Mas Drive não se limita a homenagear heróis do cinema das décadas de 70 e 80, apesar do clima retrô presente nos letreiros dos créditos iniciais - em rosa-choque - e da trilha sonora oitentista. O filme é uma obra densa e belamente filmada para colaborar na atuação do elenco e na construção da trama que, no final das contas, conta uma história de amor.
Ryan Gosling é o herói, cujo nome não é revelado - no filme todo ele é chamado apenas de "Motorista". Dublê de cenas que tenham carros e mecânico, ele faz "bicos" como motorista em alguns assaltos. A cena inicial é bem climática, ao não mostrar a perseguição, mas apenas a face do Motorista, que mantém a expressão de indiferença mesmo diante do perigo de ser preso ou morto. Homem de poucas palavras, o Motorista vive sua vida discretamente até se envolver com sua vizinha, Irene (Carey Mulligan, de Educação), mãe de um menino e com o marido cumprindo pena. A saída do marido dela da prisão desencadeará uma série de eventos que culminarão em sangue e muita violência.
O que faz a diferença em Drive em relação a outros filmes de ação são as escolhas de Refn, os posicionamentos da câmera, a paciência por vezes angustiante com que as cenas se desenrolam, o que colabora para tornar o suspense ainda mais envolvente. E são os momentos mais intimistas que justificam a classificação do filme como história de amor, embora nada convencional: o desejo e a paixão contida entre Irene e o Motorista são praticamente palpáveis e a gente acaba torcendo para o casal "ficar junto no final". Sério. Aliás, possivelmente a cena de beijo mais interessante do cinema atual acontece neste filme. Embora tudo acabe em sangue.
Drive é assim. Tem ação, perseguições e sangue jorrando, mas pode ser considerado filme "de arte". Dá para ver sem desligar o cérebro. Na verdade, é preciso ligar o cérebro para perceber todas as nuances contidas no filme. Mas acredite, a viagem vale o ingresso.

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