Não é coisa comum um filme de ação que privilegie os personagens e que não tem pressa de mostrar perseguições e explosões, preferindo construir a ação gradualmente sem esquecer que um filme deve contar uma história. Assim é Drive (2011), que recebeu o prêmio de Melhor Direção no Festival de Cannes, fato raríssimo para filmes do gênero. O prêmio é merecido, pois o trabalho do dinamarquês Nicholas Winding Refn é primoroso. Trata-se de uma retomada do clássico herói-sem-nome, típico personagem da filmografia de Clint Eastwood. Mas Drive não se limita a homenagear heróis do cinema das décadas de 70 e 80, apesar do clima retrô presente nos letreiros dos créditos iniciais - em rosa-choque - e da trilha sonora oitentista. O filme é uma obra densa e belamente filmada para colaborar na atuação do elenco e na construção da trama que, no final das contas, conta uma história de amor.
Ryan Gosling é o herói, cujo nome não é revelado - no filme todo ele é chamado apenas de "Motorista". Dublê de cenas que tenham carros e mecânico, ele faz "bicos" como motorista em alguns assaltos. A cena inicial é bem climática, ao não mostrar a perseguição, mas apenas a face do Motorista, que mantém a expressão de indiferença mesmo diante do perigo de ser preso ou morto. Homem de poucas palavras, o Motorista vive sua vida discretamente até se envolver com sua vizinha, Irene (Carey Mulligan, de Educação), mãe de um menino e com o marido cumprindo pena. A saída do marido dela da prisão desencadeará uma série de eventos que culminarão em sangue e muita violência.
O que faz a diferença em Drive em relação a outros filmes de ação são as escolhas de Refn, os posicionamentos da câmera, a paciência por vezes angustiante com que as cenas se desenrolam, o que colabora para tornar o suspense ainda mais envolvente. E são os momentos mais intimistas que justificam a classificação do filme como história de amor, embora nada convencional: o desejo e a paixão contida entre Irene e o Motorista são praticamente palpáveis e a gente acaba torcendo para o casal "ficar junto no final". Sério. Aliás, possivelmente a cena de beijo mais interessante do cinema atual acontece neste filme. Embora tudo acabe em sangue.
Drive é assim. Tem ação, perseguições e sangue jorrando, mas pode ser considerado filme "de arte". Dá para ver sem desligar o cérebro. Na verdade, é preciso ligar o cérebro para perceber todas as nuances contidas no filme. Mas acredite, a viagem vale o ingresso.
Esse filme é sensacional! Nem sabia quem era esse Refn (onde eles estava esse tempo todo?), merecida premiaçao.
Gosto do filme, dos personagens, sao bem construidos e bem profundos (o olhar da Carey Mulligan d+ n?), as atuaçoes como a de Ryan Gosling (q apesar de caricata segundo alguns blogs) cumpre seu papel, correta. A conduçao da camera como vc ressaltou, dá originalidade ao filme, sem contar com a trilha sonora (toda eletronizada, bem melodica), cuja qual ja baixei umas cançoes.
Arrisco possíveis indicações para o oscar.
Bravo Filipe, gostei da resenha, so n considero que a AÇAO seja a protagonista do filme, como o proprio diretor diz (vi em algum lugar, n lembro agora!)seu filme se baseia na relaçoes sociais, proximais, sei la... e a crise das mesmas na conjuntura em que vivemos. Ah e ele disse mais... que as pessoas precisam fazer mais sexo (disse isso fazendo analogia ao personagem do Ryan Gosling (reprimido que direciona sua suposta tensao para a violencia (algo como Freud descreveria de mecanismo de defesa do ego, purissimo!)