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Arquivo X: Eu Quero Acreditar

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Dez anos depois da primeira aparição dos agentes Fox Mulder (David Duchovny) e Dana Scully (Gillian Anderson) no cinema, o criador da série clássica Arquivo X, Chris Carter, escreveu e dirigiu este segundo filme, para, segundo ele, mostrar os protagonistas sob um novo ângulo. A tarefa foi cumprida. Em Eu Quero Acreditar, passaram-se seis anos desde que Mulder e Scully deixaram o FBI e os arquivos X foram encerrados. De uma forma muito engenhosa, o diretor Chris Carter mostra a situação em que cada um dos agentes se encontra, reservando aos fãs da série uma pequena grande surpresa (não vou contar aqui, nada de spoilers neste blog!).
Se o primeiro filme, de 1998, serviu como elo para a mitologia da série, envolvendo a gigantesca conspiração governamental para ocultar a presença de alienígenas na terra, nesta segunda produção o diretor entregou um típico episódio de "monstro da semana", com um caso sem conexões com a trama principal da série. Nada mais justificável, já que a série não está mais no ar. E agindo assim, é perfeitamente possível acompanhar e entender a trama sem nunca ter assistido um único episódio da série televisiva - em relação a isso, o único porém é que, para compreender as motivações dos protagonistas, faz-se necessário conhecê-los previamente.
A história envolve o desaparecimento de uma agente do FBI, um ex-padre com dons psíquicos e a volta da dupla de agentes para colaborar com as investigações. Todo o clima original da série está lá: a fotografia sombria, as estradas cortando florestas, os locais inóspitos onde vivem os criminosos e os crimes sinistros. Mas ainda falta a este segundo filme um antagonista identificável, ou com o mínimo de carisma - para se ter uma ideia, o grande chefão da quadrilha de criminosos só é mostrado no final, mesmo assim através da foto de um jornal!
Ainda assim, como um episódio de 1h40min, Arquivo X: Eu Quero Acreditar cumpre sua tarefa, a de entregar uma história competente com atores que nasceram para aqueles personagens e arrebanhar novos fãs para a tão cultuada de ficção científica e mistério que conquistou o mundo e estabeleceu padrões imitados por inúmeros outros programas que vieram posteriormente.

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O Caçador de Trolls

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Falso documentário norueguês é pérola a ser descoberta

Depois que A Bruxa de Blair tornou-se fenômeno mundial como um misto de falso documentário com terror sobrenatural, outros exemplares viraram coisa comum no cinema. J. J. Abrams produziu Cloverfield - Monstro, que consegue ser infinitamente melhor do que Blair, da Espanha veio Rec, que de tão bem sucedido se transformou em uma franquia lucrativa, e o assustador Atividade Paranormal também se consolidou como uma série muitíssimo lucrativa para a Paramount. Agora é a vez dos noruegueses terem seu mockumentary (como é chamado esse gênero em inglês). E O Caçador de Trolls acerta ao utilizar uma lenda nórdica para criar uma atmosfera gélida que tira o fôlego do espectador. Dirigido por André Øvredal, o filme mostra três estudantes universitários produzindo um documentário sobre uma caçada a ursos na Noruega que se deparam com uma figura misteriosa, um enigmático caçador chamado Hans (Otto Jespersen), que logo se revela um caçador de trolls.
Para quem não está por dentro da mitologia nórdica, trolls são aqueles monstros gigantes que vivem nas cavernas encravadas nas montanhas e nas florestas daquela congelante região da Europa. Essas criaturas saem à noite para caçar, e comem literalmente de tudo, desde pedras até, é claro, pessoas. Para que isso aconteça, basta que alguém desavisado esteja na frente deles. Quando os estudantes se juntam à caçada de Hans, o espectador vai descobrindo detalhes sobre os gigantes. E tudo fica ainda mais interessante.
O Caçador de Trolls não é um filme de terror. A produção mais se aproxima do gênero aventura, à moda de Jurassic Park - com direito a referência à famosa cena da perseguição do tiranossauro rex ao carro, onde o monstro é mostrado através do retrovisor. Como ponto fraco do filme está o desenvolvimento dos personagens. Não se sabe muito a respeito deles, apesar do fato de que isso não importa muito quando entram em cena os incrivelmente bem feitos trolls dos mais variados tipos. Há quatro cenas que valem todo o filme, nas quais os monstros exibem toda a sua força. E sua estupidez. É que trolls são bichos burros, que só pensam com o estômago e tal característica dá um bem vindo tom de humor ao filme.
Em meio a tantas produções americanas desinteressantes e idiotas, ver um filme comercial norueguês muito divertido e com efeitos especiais de primeira é algo no mínimo, curioso. E no caso de O Caçador de Trolls, a experiência vai além da curiosidade. É cinema de verdade.

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O Guarda

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Para este filme, me sinto obrigado a usar a expressão "clássico instantâneo". E não estou exagerando. O Guarda está carregado de elementos originais que o incluem entre as grandes comédias policiais do cinema. E o dono da festa tem nome: Brendan Gleeson, esse nobre desconhecido, que já roubou a cena em outro grande filme, Na Mira do Chefe, de 2008. Desta vez, Gleeson é o protagonista e herói da trama. Ele é Boyle, um sargento em uma pequena cidade irlandesa que se une ao agente especial do FBI Everett (Don Cheadle) na investigação sobre um grande carregamento de cocaína que chegará de barco à costa da Irlanda. Boyle e Everett são a típica dupla de policiais que não se entende, mas que exatamente por isso se dão muito bem. Ambos têm seu senso próprio de justiça, apesar do temperamento não-ortodoxo de Boyle, que diz simplesmente tudo o que lhe vem à mente.
Esta é a razão pela qual Boyle é um personagem tão marcante. O sargento diz um palavrão a cada 5 palavras que diz, nunca constituiu família, gasta dinheiro com prostitutas e bebida, e apesar disso, é um bom policial, e se preocupa com sua mãe - interpretada pela espetacular Fionnula Flanagan (a governanta sinistra de Os Outros). Politicamente incorreto até os ossos, Boyle não se deixa levar por sentimentalismos baratos nem se esforça para parecer tolerante. Em um certo momento, quando Everett expõe para os policiais os detalhes do caso que investiga, Boyle pede a palavra para dizer que pensava que todos os traficantes eram negros. Repreendido por seu superior, ele diz: "Claro que sou racista; sou irlandês, ser racista é parte da minha cultura." Honesto nem um pouco.
Chama a atenção a fluidez dos diálogos, com falas memoráveis, como a discussão que os três traficantes do filme têm sobre filósofos alemães e ingleses - que nos faz lembrar os diálogos nerd entre Samuel L. Jackson e John Travolta, em Pulp Fiction - Tempo de Violência. Aliás, qualquer semelhança entre Quentin Tarantino e o diretor John Michael McDonagh não é mera coincidência. O estilo dos dois cineastas é muito parecido, com diálogos ágeis e situações cômicas se alternando com momentos de violência. E se um cineasta tiver que se inspirar em outro diretor para fazer seus filmes, Tarantino é um bom nome para se copiar. Pelo menos McDonagh não é fã de Michael Bay.

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Planeta dos Macacos: A Origem

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O anúncio da Fox de que iria produzir uma prequel de Planeta dos Macacos gerou imensa desconfiança, para dizer o mínimo. Afinal, a releitura de Tim Burton para a série clássica dos anos 60 não foi exatamente uma unanimidade; é tarefa difícil causar o impacto que o final do filme original gerou no público, mas ainda assim Burton soube imprimir sua marca na série, mesmo sem gerar a repercussão (e os lucros) que o estúdio esperava. Logo, insistir com a franquia da Terra tomada pelos primatas parecia loucura e um tremendo desperdício de dinheiro e talentos envolvidos.
Entre os céticos e desinteressados pela nova renovação da franquia, estava eu. Qual não foi minha surpresa ao descobrir a qualidade imensa deste novo filme, dirigido pelo desconhecido Rupert Wyatt. Wyatt chamou a atenção da Fox quando lançou seu primeiro longa, The Escapist, em 2008. Desejoso de retomar Planeta dos Macacos, o estúdio contratou o cineasta na tentativa de investir em uma história que contasse o começo de tudo.
E Wyatt vai além das expectativas ao narrar a história de César, um chimpanzé nascido em um laboratório de San Francisco, dirigido pelo cientista Will Rodman (James Franco). César tem uma inteligência acima do normal, o que Will descobre quando leva o filhote para casa, por razões que não descreverei aqui (nada de spoilers no meu blog!). Quem conhece a história da série sabe que César foi o primeiro símio a se rebelar contra a humanidade, quem deu início à dominação dos macacos sobre a Terra.
E a maneira como isso é mostrado é simplesmente magistral. A construção da trama não tem nenhuma pressa de mostrar as cenas de ação de cara, preocupando-se em explicar as razões de César para sua rebelião.
Tudo isso é legal, as cenas de ação são de alta qualidade, o elenco de humanos está muito bem (OK, talvez exceção para Freida Pinto, meio deslocada), mas o que diferencia este Planeta dos Macacos dos outros exemplares da série é o fato de César ser inteiramente gerado em CGI. Se os filmes anteriores traziam atores maquiados de macacos e impressionavam pelo realismo das caracterizações, em A Origem 90% dos macacos  não estão realmente no set de filmagem. Mas isso não é perceptível de cara, o que faz a experiência de assistir ao filme algo ainda mais marcante e interessante. Crédito da WETA Digital, a mesma empresa que fez O Senhor dos Anéis, King Kong e As Crônicas de Nárnia, e de Andy Serkis, o grande ator que ninguém conhece. Andy é o homem por trás de Gollum e é o próprio King Kong. Foram seus movimentos e sua atuação captados por sensores que compuseram toda a excepcional expressão de César. O resultado é tão impressionante que há quem defenda a indicação de Andy para o Oscar de Melhor Ator!
Por todas essas razões, não há porque desconfiar quando a Fox anunciar que Planeta dos Macacos: A Origem terá uma sequência. Pelo menos, não por enquanto.

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Novas e interessantes comédias que você vai querer ver

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Fazer comédia, seja no cinema ou na tevê, não é trabalho fácil. Especialmente no cinema, onde é difícil medir o grau de aceitação do público durante a filmagem de uma cena ou a elaboração de um roteiro. Exatamente por isso, dificilmente uma comédia me agrada. Mas nos últimos dias, algumas novas produções cômicas chamaram minha atenção; resolvi escrever um breve post sobre elas.

Quero matar meu chefe (Horrible Bosses, EUA, 2011) - As "bromédias" estão na moda. São aqueles filmes com elencos majoritariamente masculinos, onde os personagens são amigos mais chegados que irmãos, que se metem em encrencas juntos, e cuja amizade ultrapassa quaisquer limites de aproximação: os caras simplesmente contam absolutamente tudo uns para os outros! Enfim, esse novo subgênero de comédia já rendeu bons filmes, como o primeiro Se beber, não case, e Ligeiramente Grávidos. Quero matar meu chefe é outro exemplo de uma boa "bromédia", além de ser uma paródia competente do mundo profissional. Nick (Jason Bateman) é um daqueles funcionários exemplares; ele chega ao escritório às seis, dedica-se como um condenado e engole todo tipo de sapo, tudo com o objetivo de ser promovido e não ter mais que aturar seu insuportável e perverso chefe, Dave (Kevin Spacey, excelente). Kurt (Jason Sudeikis) trabalha em indústria química e desde que seu patrão e amigo morreu, tem que aguentar o filho dele, Bobby (Colin Farrel), um idiota drogado que não dá a mínima para a empresa que seu pai construiu. Dale (Charlie Day) é assistente de uma dentista totalmente tarada (Jennifer Aniston), que vive o assediando sexualmente - Dale é noivo, e fiel, coisa rara nas comédias atuais. Para resumir a história, os três são amigos e resolvem que a melhor maneira de melhorarem suas vidas é matando seus chefes. É claro que, na tentativa de executar seu plano, muita confusão será armada e as cenas engraçadas vêm em profusão. Digna de nota é a participação de Jamie Foxx (vencedor do Oscar por Ray) como um ex-presidiário que vira uma espécie de consultor de assassinato para o atrapalhado trio de amigos. Ótima pedida para uma descompromissada sessão de cinema com os amigos.

Amor a toda prova (Crazy, Stupid, Love., EUA, 2011) - Steve Carell, Julianne Moore e Ryan Gosling estrelam essa comédia romântica leve com algumas situações de desencontros, típicas das comédias do gênero, muito interessantes. O casal Weaver (Steve e Julianne) se divorcia depois de muitos anos de casamento, e Cal, agora solteiro, precisa reaprender a arte da cantada e da "pegação". E para isso, entra em cena Jacob (Gosling), solteirão profissional, com uma lábia irresistível para as mulheres, que fica com uma diferente a cada noite. Outras duas tramas, aparentemente sem conexão com a trama principal, vão se desenrolando durante o filme, e o clímax guarda uma pequena surpresa que desencadeia a cena mais engraçada de Amor a toda prova. Sem sair da tendência atual das comédias americanas (que o cinema brasileiro tenta desesperadamente copiar, sem necessidade), o foco do roteiro se localiza na amizade de Cal e Jacob. O novo solteiro torna-se um pegador talentoso, e não será nenhuma surpresa para o espectador o fato de Cal perceber quem ele realmente ama, a despeito de todas as belas mulheres que conhece. Filme bacana, dirigido pelos realizadores de Papai Noel às avessas, Glen Ficarra e John Requa. Ainda tem no elenco Kevin Bacon, Emma Stone e Marisa Tomei, esta fazendo o mesmo papel há anos. Boa opção para assistir a dois.

O Retorno de Tamara (Tamara Drew, Inglaterra, 2010) - Stephen Frears tem uma filmografia que não se prende a gêneros. Fez comédias memoráveis (Herói por Acidente, de 1992 e Alta Fidelidade, de 2000), thrillers excelentes (Os Imorais, de 1990) e criou a imagem de Elizabeth II que se eternizará nas mentes do público em A Rainha (2006). Em O Retorno de Tamara, Frears não realiza seu melhor filme, mas ainda entrega uma comédia competente. Mas não me entenda mal, esta comédia não faz ninguém rir, mesmo sendo um bom filme. Trata-se de uma "dramédia", que conta a história da personagem-título (Gemma Arterton, de Príncipe da Pérsia - As Areias do Tempo), colunista de um jornal inglês, que volta à sua pequena cidade natal para reformar a velha casa que herdou da mãe e vendê-la. A volta de Tamara, entretanto, é apenas o estopim de uma série de eventos que conduzirão ao clímax, uma cena que justifica a inclusão da palavra "drama" na definição do filme.
Stephen Frears faz uma incursão no que poderia ser chamado de metafísica, já que seu filme usa uma forma de arte (o cinema) para falar de outra forma de arte (a literatura), pois toda a história gira em torno de uma fazenda que serve de pousada para escritores que buscam o sossego do campo para terminarem suas obras. Os personagens centrais da trama têm o seu charme, e Gemma Arterton está especialmente linda como a catalisadora dos acontecimentos da trama. Merece destaque também a jovem Jessica Barden, como uma colegial entediada que passa os dias sonhando namorar com um astro do rock. São tantas as subtramas e os personagens notáveis, que pode-se pensar no equívoco do título do filme, já que Tamara, mesmo linda, nem de longe é o que há de mais interessante na história. Vale a pena conferir. Mesmo.

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Meia Noite em Paris

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Cineasta declaradamente apaixonado por Nova York, Woody Allen tem mudado os cenários de seus últimos filmes e experimentado uma renovação de seu público e uma espécie de recuperação de sua obra. Se Match Point e Vicky Cristina Barcelona exploravam as capitais europeias de Inglaterra e Espanha, respectivamente, neste Meia Noite em Paris, a cidade-fetiche do momento é a bela "Cidade das Luzes". E desde as primeiras tomadas, com imagens de uma Paris deslumbrantemente romântica, Allen mostra o quão apaixonante a cidade é. Mas seria apenas um filme cartão-postal, comercial de turismo, não fosse o delicado roteiro de Allen, que mescla as neuroses características de seus protagonistas (sempre alteregos do diretor) com a fantasia de viajar no tempo.
Gil (Owen Wilson, em seu melhor papel) é um roteirista de Hollywood, desiludido com o cinema, que está escrevendo um romance, com a intenção de abandonar a carreira na sétima arte e se dedicar à literatura. Melancólico e sonhador, ele vive com a certeza de que os anos 20 em Paris eram maravilhosos, muito melhores do que o tempo em que vive. Sua noiva, Inez (Rachel McAdams) é uma bela mulher, mas completamente diferente de Gil; ela quer se casar e morar em Hollywood, enquanto ele sonha em se mudar para a Cidade-Luz. Os dois estão em Paris a passeio, juntamente com os pais de Inez. Uma noite, depois de passar o dia com dois amigos pedantes e insuportáveis de Inez, Gil resolve passear pelas ruas da cidade para relaxar um pouco. Exatamente à meia noite, um carro antigo se aproxima e as pessoas que estão dentro chamam Gil para entrar; ele aceita o convite e se vê de volta à década de 1920, onde vive seu sonho.
As viagens duram sempre a noite inteira, e por várias noites Gil encontra personalidades artísticas e literárias de renome, que viveram em Paris naquela década. Dentre elas estão Ernest Hemingway, T.S. Eliot, F. Scott Fitzgerald, Pablo Picasso, Gertrude Stein, Luís Buñuel, Salvador Dalí e outros (não sabem quem são eles?Clique nos nomes e vá ver na Wikipédia!). Até Carla Bruni, primeira-dama da França dá as caras, no papel de uma guia de turismo. Como em A Rosa Púrpura do Cairo, que Allen dirigiu em 1985, em Meia Noite em Paris é um conto fantástico onde coisas surreais acontecem sem que haja qualquer explicação. Não que seja necessário, já que não é o fato surreal o foco do roteiro. Allen está mais interessado em ensinar a seu protagonista (e ao espectador) que não importa a época em que vivemos, contanto que vivamos intensamente e persigamos nossos sonhos.
Em meio a um desfile de tantas pessoas famosas, não há personagem mais importante do que Gil, que percebe ser o protagonista de sua própria vida. Não é de se estranhar, afinal cada protagonista de um filme de Allen é um retrato do próprio diretor, que expõe na tela suas angústias, neuroses e anseios. É como se cada filme do diretor novaiorquino fosse uma "nova aventura" de seu personagem recorrente, nesse caso, ele próprio. Meia Noite em Paris é um triunfo do diretor que aprendeu a se reinventar sem nunca perder os elementos que fizeram dele um criador que parece não esgotar suas ideias para tantos filmes.

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Se enlouquecer não se apaixone

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Craig é um adolescente de 16 anos que aparentemente tem tudo: estuda em uma das melhores escolas de Nova York, tem uma família que se importa com ele, amigos muito legais. Mas ao mesmo tempo, sua mente está uma bagunça. Pressionado por seu pai para se candidatar a uma faculdade dentre as melhores do país, obcecado por uma linda garota que acontece de ser a namorada de seu melhor amigo, sem saber o que fazer, ele tem pensamentos suicidas, chegando ao ponto de buscar ajuda na ala psiquiátrica de um hospital público. Uma típica crise adolescente, alguns diriam. Mas o filme Se enlouquecer não se apaixone (It's kind of a funny story, EUA, 2010) trata com bastante sinceridade a adolescência, sem ser condescendente. Os diretores Anna Boden e Ryan Fleck entregam uma comédia sensível e emocionante, com uma mensagem muito positiva sobre um jovem em busca de autoconhecimento.
Se enlouquecer não se apaixone parece com outros filmes passados em hospícios, como Um Estranho No Ninho, quando se trata do desenvolvimento de personagens. São tipos muito interessantes e envolventes, com quem o espectador até se identifica. Ao abordar os problemas psíquicos que muitos de nós escondemos, o roteiro é de uma empatia pouco vista em comédias americanas, aliás, em comédias de qualquer parte do mundo.
E é divertido. Não é daquelas comédias dramáticas independentes que apenas deixam um risinho no canto da boca. Há momentos realmente engraçados. Os momentos de flashbacks do protagonista usam recursos narrativos bastante originais e diferentes, como a cena em que Craig (Keir Gilchrist) narra um momento romântico entre ele e Noelle (Emma Roberts, sobrinha de Julia Roberts).
Um ótimo filme para se ver numa tarde preguiçosa e, ao final da sessão, ter a sensação de ter assistido algo realmente bom.

No Brasil o filme passou longe das salas de cinema, indo parar direto em DVD e Blu-Ray. Aproveite!

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Super 8 - Uma boa aventura para a Sessão da Tarde

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Poucos nomes surgidos no cinema do século XXI têm tanto a dizer e a contribuir com esta arte como J.J. Abrams. Depois de colocar a TV no novo milênio e fazer com que ela dialogasse com a internet e toda uma geração de fãs de ficção científica e mistério com a série Lost, Abrams não parou e migrou para o cinema, primeiro dirigindo um altamente subestimado Missão: Impossível 3, de longe o melhor filme da série até o momento; depois, o diretor foi para a produção de Cloverfield: Monstro, filmaço do gênero "terror com a câmera na mão"; a seguir, seu maior passo: a tarefa árdua de recriar uma das franquias mais duradouras e amadas da ficção científica, Star Trek. O resultado foi o melhor filme da série, fincando bases para novas sequências, novamente sob seu comando.
Mas poucos filmes foram tão falados e aguardados pela massa nerd este ano quanto Super 8, afinal de contas, não é todo dia que o criador de Lost é produzido pelo inventor dos maiores blockbusters de todos os tempos, Steven Spielberg. Toda a atmosfera criada pela divulgação a conta-gotas de informações como a sinopse do filme, o teaser que deixava todo mundo louco para ver mais e a quase nenhuma imagem prévia do monstro da história, tudo isso fez com que o público esperasse ainda mais por esse filme.
Mas, apesar de ter os nomes de Spielberg e Abrams envolvidos, Super 8 ainda era uma aposta arriscada. O elenco não trazia nenhum nome conhecido - o rosto mais reconhecível pelo grande público deve ser Noah Emmerich, que fez o melhor amigo de Jim Carrey em O Show de Truman -, não era uma adaptação de história em quadrinhos, nem era um recomeço de alguma franquia consagrada. Tratava-se de uma história totalmente original, o que só por isso já merece reconhecimento e aplausos, em uma Hollywood saturada por adaptações e remakes, mas não bastou para o público, que fez com que Super 8 fracassasse em solo americano. O filme não deu prejuízo, mas ficou longe de ser o sucesso que o estúdio esperava.
Entretanto, diante de tantas informações, resta a dúvida: o filme, afinal, é bom ou não? Para mim, fã confesso dos dois nomes envolvidos, admito que esperava mais, embora acredite que isso se deve à minha alta expectativa. Ainda assim, Super 8 é uma boa aventura à moda antiga, que lembra muito Os Goonies e E.T. - O Extraterrestre, ambos filmes da empresa de Spielberg, a Amblin. Trata-se de um daqueles filmes que, em um mundo perfeito, seria reprisado à exaustão na Sessão da Tarde (se esta ainda fosse a mesma de antes). Conta a história de Joe e seus amigos, que estão fazendo um filme com uma câmera de super 8, comum nos anos 80. Os garotos estão filmando em uma estação de trem afastada da cidade quando presenciam o violento descarrilamento de um trem militar. A cena é fantástica, justificando todo o dinheiro investido. Enquanto tentam se salvar de serem atingidos pelos vagões, a câmera é largada enquanto ainda gravava. Joe percebe que alguma coisa estranha arrebenta a porta de um dos vagões e faz um barulho estranho. Os garotos fogem do local, mas sabem que presenciaram mais do que um acidente, algo que o exército está tentando esconder do público.
É seguindo nesse mistério que toda a aventura se desenrola, mas apesar de todo o enigma envolvendo o tal monstro, e as cenas fantásticas de ação que o tem como protagonista, o foco principal do roteiro está nos personagens, muito bem desenvolvidos. Abrams explora com precisão a amizade de Joe e Charles, e o romance juvenil iniciado entre Joe e Alice. Há emoção, correria, explosões, e humor. Tudo o que faz de uma aventura algo bacana de assistir.
Interessante também observar que o filme não tem pressa em mostrar o monstro, deixando o público curioso até o clímax, onde tudo já está explicado. Não se vê muito isso nos filmes de hoje, que de cara já mostram a criatura tirando do público qualquer sabor de descoberta conforme se desenrola a história.
No final das contas, Super 8 é um desses filmes à moda antiga, que parece feito para marcar uma geração, como foi com Os Goonies e E.T.. Não sei se chegará a tanto. Mas que é uma aventura com a marca Spielberg de qualidade, disso ninguém tem dúvida.

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