Para este filme, me sinto obrigado a usar a expressão "clássico instantâneo". E não estou exagerando. O Guarda está carregado de elementos originais que o incluem entre as grandes comédias policiais do cinema. E o dono da festa tem nome: Brendan Gleeson, esse nobre desconhecido, que já roubou a cena em outro grande filme, Na Mira do Chefe, de 2008. Desta vez, Gleeson é o protagonista e herói da trama. Ele é Boyle, um sargento em uma pequena cidade irlandesa que se une ao agente especial do FBI Everett (Don Cheadle) na investigação sobre um grande carregamento de cocaína que chegará de barco à costa da Irlanda. Boyle e Everett são a típica dupla de policiais que não se entende, mas que exatamente por isso se dão muito bem. Ambos têm seu senso próprio de justiça, apesar do temperamento não-ortodoxo de Boyle, que diz simplesmente tudo o que lhe vem à mente.
Esta é a razão pela qual Boyle é um personagem tão marcante. O sargento diz um palavrão a cada 5 palavras que diz, nunca constituiu família, gasta dinheiro com prostitutas e bebida, e apesar disso, é um bom policial, e se preocupa com sua mãe - interpretada pela espetacular Fionnula Flanagan (a governanta sinistra de Os Outros). Politicamente incorreto até os ossos, Boyle não se deixa levar por sentimentalismos baratos nem se esforça para parecer tolerante. Em um certo momento, quando Everett expõe para os policiais os detalhes do caso que investiga, Boyle pede a palavra para dizer que pensava que todos os traficantes eram negros. Repreendido por seu superior, ele diz: "Claro que sou racista; sou irlandês, ser racista é parte da minha cultura." Honesto nem um pouco.
Chama a atenção a fluidez dos diálogos, com falas memoráveis, como a discussão que os três traficantes do filme têm sobre filósofos alemães e ingleses - que nos faz lembrar os diálogos nerd entre Samuel L. Jackson e John Travolta, em Pulp Fiction - Tempo de Violência. Aliás, qualquer semelhança entre Quentin Tarantino e o diretor John Michael McDonagh não é mera coincidência. O estilo dos dois cineastas é muito parecido, com diálogos ágeis e situações cômicas se alternando com momentos de violência. E se um cineasta tiver que se inspirar em outro diretor para fazer seus filmes, Tarantino é um bom nome para se copiar. Pelo menos McDonagh não é fã de Michael Bay.
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