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Garçonete

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Jenna, a personagem central de Garçonete, tem uma vida triste. Um marido horrível, um chefe mal humorado, sonhos não realizados. E para completar, ela acaba de descobrir que está grávida do tal marido horrendo, alguém tão ridículo quanto perigoso. É nesse momento que encontramos nossa heroína, uma das mulheres mais próximas do real (se é que isso é possível) que o cinema americano já produziu; e o melhor: Jenna não é o único personagem fascinante nessa história. No filme de Adrienne Shelly, que também atua como uma das amigas de Jenna, os personagens adoráveis - e detestáveis - se acumulam.
A trama vai se desenrolando e nós espectadores nos sentimos envolvidos na vida da protagonista de maneira que as lágrimas dificilmente deixarão de cair (ou a imensa vontade de que elas caiam), pois emoção Garçonete tem de sobra. Isso tudo sem nunca cair em pieguice hollywoodiana desnecessária. A atriz Keri Russel (da série Felicity) parece não perceber o peso de liderar um elenco em cinema pela primeira vez, tamanha a leveza que imprime em cada fotograma. Mesmo em cenas mais tensas percebemos uma fluidez digna das grandes divas da sétima arte.
Primeiro filme da diretora, roteirista e atriz Adrienne Shelly, este acabou sendo também sua última obra, pois Shelly foi assassinada semanas antes do filme sequer ser lançado. Triste saber que tanto talento contido nunca poderá ser compartilhado conosco, um público ansioso por bons filmes de verdade.
Fica, porém, a mensagem que a diretora queria passar: a felicidade se encontra em coisas pequenas, detalhes que falam muito mais alto no fim das contas que dinheiro e sexo. Felicidade não é errar nas escolhas. Mas é, com certeza, poder começar tudo de novo.

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Meu nome não é Johnny

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Ano passado um fenômeno tomou conta do país inteiro, influenciando comportamento, programas de TV e até o jeito de falar. Estou falando de Tropa de Elite, de José Padilha. Trata-se do primeiro filme a sofrer com a pirataria de maneira astronômica, pois antes mesmo de ser lançado nos cinemas já era um sucesso nas bancas de camelôs Brasil afora. Estima-se que 11 milhões de pessoas tenham assistido ao filme sem nunca ter pisado em uma sala de cinema. OK, Filipe, mas por que você está começando um texto sobre Meu Nome Não é Johnny, filme com Selton Mello (o Johnny Depp brasileiro), falando sobre Tropa de Elite? E a resposta é: estou querendo estabelecer uma comparação aqui entre os dois filmes. Sim, eu sei que são obras distintas, embora tenham elementos em comum. Acontece que Johnny é um filme superior em muitas coisas ao fenômeno popular jamais visto no Brasil. Primeiramente, a obra de Mauro Lima suscita emoções que Tropa sequer arranha em conseguir.
Sei que essa não era a intenção de Tropa. O que José Padilha queria era chocar, mostrar uma realidade crua de uma sociedade contaminada por um sistema corrupto do qual todos nós fazemos parte. E nisso o filme é magistral. Não estou aqui para desmerecer um filme tão adorado (e vencedor em Berlim)!
Mas vejo em Meu Nome Não é Johnny muito mais para a vida dessa mesma sociedade retratada em Tropa. Demonstrações práticas de otimismo, sem apelar para vazias lições de moral, típicas dos filmes da Disney. O filme é realmente emocionante, sem pieguismo, nem soluções falsas. É verdadeiro, sincero e bonito.
Claro que Tropa de Elite tem outras lições. Então quer saber? Vamos parar de comparar! Assista os dois, mas assista Meu Nome Não é Johnny mais vezes. E quem sabe até rola uma lágrima inesperada.

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Cloverfield - Monstro

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Como subgênero originado dos filmes de terror, os filmes de monstro são considerados por muitos como exemplos bobos surgidos na arte cinematográfica. De fato, a maioria desses filmes são obras B, grande parte realizada com orçamento mínimo e - o que é pior - sem a menor criatividade de seus realizadores.
Ultimamente, entretanto, o cinema mundial tem brindado os fãs com excelentes obras do gênero. Um bom exemplo é o recente O Hospedeiro, filme sul-coreano de ótima repercussão mundo afora, que traz um bagre anabolizado aterrorizando a cidade de Seul, saído do rio Han. Diferente de outros filmes de monstro, este não centraliza a trama no monstro, mas mostra o drama pessoal das pessoas afetadas pelo surgimento do gigantesco gosmento.
Depois que a Coréia do Sul mostrar que tem habilidade e know-how para fazer filmes recheados de efeitos especiais mas também com alma e emoção, faltava Hollywood mostrar que pode igualmente agradar crítica e público com um filme de monstro genuíno, mas carregado na dramaticidade de seus personagens.
Somente um cara como J.J.Abrams (produtor do filme), criador de Lost e diretor da releitura da série cinematográfica Star Trek, poderia trazer algo assim à tona.
Cloverfield - Monstro é um desses filmes de terror que cumprem à risca seu dever. É apavorante! Mas, surpreendentemente em uma superprodução, mantém os olhos do espectador voltados para a reação de pessoas comuns a um evento extraordinário. Todo o filme é mostrado do ponto de vista da câmera de Hud, que filmava a festa de despedida de seu melhor amigo quando o monstro ataca Nova York (sempre NY). O que segue depois disso é a maneira como ele e seus amigos, Lily, Rob, Jason e Marlena, vão passar por tudo isso, e ainda sobreviver.
Não pensem os desavisados que por ser do ponto de vista de uma câmera caseira, o filme não tem a ação que um filme de monstro deve ter. Ela está lá, assim como os efeitos especiais de primeira linha, as explosões, os "filhotes" do monstro, e é claro, o monstro gigantesco. Tudo para fazer de Cloverfield - Monstro um desses filmes para assistir com a galera, comendo pipoca, com a luz apagada e gritando a cada susto - que não são poucos.

Nota: 9

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