Fazer comédia, seja no cinema ou na tevê, não é trabalho fácil. Especialmente no cinema, onde é difícil medir o grau de aceitação do público durante a filmagem de uma cena ou a elaboração de um roteiro. Exatamente por isso, dificilmente uma comédia me agrada. Mas nos últimos dias, algumas novas produções cômicas chamaram minha atenção; resolvi escrever um breve post sobre elas.
Quero matar meu chefe (Horrible Bosses, EUA, 2011) - As "bromédias" estão na moda. São aqueles filmes com elencos majoritariamente masculinos, onde os personagens são amigos mais chegados que irmãos, que se metem em encrencas juntos, e cuja amizade ultrapassa quaisquer limites de aproximação: os caras simplesmente contam absolutamente tudo uns para os outros! Enfim, esse novo subgênero de comédia já rendeu bons filmes, como o primeiro Se beber, não case, e Ligeiramente Grávidos. Quero matar meu chefe é outro exemplo de uma boa "bromédia", além de ser uma paródia competente do mundo profissional. Nick (Jason Bateman) é um daqueles funcionários exemplares; ele chega ao escritório às seis, dedica-se como um condenado e engole todo tipo de sapo, tudo com o objetivo de ser promovido e não ter mais que aturar seu insuportável e perverso chefe, Dave (Kevin Spacey, excelente). Kurt (Jason Sudeikis) trabalha em indústria química e desde que seu patrão e amigo morreu, tem que aguentar o filho dele, Bobby (Colin Farrel), um idiota drogado que não dá a mínima para a empresa que seu pai construiu. Dale (Charlie Day) é assistente de uma dentista totalmente tarada (Jennifer Aniston), que vive o assediando sexualmente - Dale é noivo, e fiel, coisa rara nas comédias atuais. Para resumir a história, os três são amigos e resolvem que a melhor maneira de melhorarem suas vidas é matando seus chefes. É claro que, na tentativa de executar seu plano, muita confusão será armada e as cenas engraçadas vêm em profusão. Digna de nota é a participação de Jamie Foxx (vencedor do Oscar por Ray) como um ex-presidiário que vira uma espécie de consultor de assassinato para o atrapalhado trio de amigos. Ótima pedida para uma descompromissada sessão de cinema com os amigos.
Amor a toda prova (Crazy, Stupid, Love., EUA, 2011) - Steve Carell, Julianne Moore e Ryan Gosling estrelam essa comédia romântica leve com algumas situações de desencontros, típicas das comédias do gênero, muito interessantes. O casal Weaver (Steve e Julianne) se divorcia depois de muitos anos de casamento, e Cal, agora solteiro, precisa reaprender a arte da cantada e da "pegação". E para isso, entra em cena Jacob (Gosling), solteirão profissional, com uma lábia irresistível para as mulheres, que fica com uma diferente a cada noite. Outras duas tramas, aparentemente sem conexão com a trama principal, vão se desenrolando durante o filme, e o clímax guarda uma pequena surpresa que desencadeia a cena mais engraçada de Amor a toda prova. Sem sair da tendência atual das comédias americanas (que o cinema brasileiro tenta desesperadamente copiar, sem necessidade), o foco do roteiro se localiza na amizade de Cal e Jacob. O novo solteiro torna-se um pegador talentoso, e não será nenhuma surpresa para o espectador o fato de Cal perceber quem ele realmente ama, a despeito de todas as belas mulheres que conhece. Filme bacana, dirigido pelos realizadores de Papai Noel às avessas, Glen Ficarra e John Requa. Ainda tem no elenco Kevin Bacon, Emma Stone e Marisa Tomei, esta fazendo o mesmo papel há anos. Boa opção para assistir a dois.
O Retorno de Tamara (Tamara Drew, Inglaterra, 2010) - Stephen Frears tem uma filmografia que não se prende a gêneros. Fez comédias memoráveis (Herói por Acidente, de 1992 e Alta Fidelidade, de 2000), thrillers excelentes (Os Imorais, de 1990) e criou a imagem de Elizabeth II que se eternizará nas mentes do público em A Rainha (2006). Em O Retorno de Tamara, Frears não realiza seu melhor filme, mas ainda entrega uma comédia competente. Mas não me entenda mal, esta comédia não faz ninguém rir, mesmo sendo um bom filme. Trata-se de uma "dramédia", que conta a história da personagem-título (Gemma Arterton, de Príncipe da Pérsia - As Areias do Tempo), colunista de um jornal inglês, que volta à sua pequena cidade natal para reformar a velha casa que herdou da mãe e vendê-la. A volta de Tamara, entretanto, é apenas o estopim de uma série de eventos que conduzirão ao clímax, uma cena que justifica a inclusão da palavra "drama" na definição do filme.
Stephen Frears faz uma incursão no que poderia ser chamado de metafísica, já que seu filme usa uma forma de arte (o cinema) para falar de outra forma de arte (a literatura), pois toda a história gira em torno de uma fazenda que serve de pousada para escritores que buscam o sossego do campo para terminarem suas obras. Os personagens centrais da trama têm o seu charme, e Gemma Arterton está especialmente linda como a catalisadora dos acontecimentos da trama. Merece destaque também a jovem Jessica Barden, como uma colegial entediada que passa os dias sonhando namorar com um astro do rock. São tantas as subtramas e os personagens notáveis, que pode-se pensar no equívoco do título do filme, já que Tamara, mesmo linda, nem de longe é o que há de mais interessante na história. Vale a pena conferir. Mesmo.
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