O ano de 1994 foi um dos mais marcantes da minha geração. Algumas coisas esta geração nunca esquecerá. O dia em que o Real foi lançado. Usar moedas de centavos pela primeira vez. O tetracampeonato da Seleção Brasileira. Mas o evento mais marcante de um ano marcante não passa pela economia nem pelas quatro linhas de um campo de futebol. Sem dúvida nenhuma, todos de minha geração lembram-se de onde estavam quando souberam da morte de Ayrton Senna, o maior ídolo do esporte que o Brasil já teve.
Fazer um filme sobre a carreira de um ídolo esportivo a nível mundial pode parecer tarefa fácil - basta jogar imagens de arquivo com o ídolo em questão sorrindo, fazendo o que fazia melhor, jogar depoimentos de parentes e amigos e encerrar com a morte do ídolo. Mas o diretor Asif Kapadia preferiu fazer de Senna um filme menos clichê sem deixar de ser emocional.
As imagens de arquivo estão lá, mas não são intercaladas com depoimentos filmados, como seria esperado. Todos os depoimentos (os pais de Senna, Reginaldo Leme, Viviane Senna, Alain Prost, Frank Williams, etc.) são apenas ouvidos enquanto vemos cenas de corridas ou da vida privada de Ayrton. Mas o que diferencia Senna de todos os outros documentários e reportagens televisivas sobre o piloto tricampeão mundial de Fórmula 1 é o acesso a imagens nunca antes exibidas dos bastidores das corridas, as reuniões pré-corridas com todos os pilotos, que mostram as posições de Ayrton contra a politicagem presente na FIA, a organização que realiza o campeonato mundial.
Há momentos de arrepiar, como o dia em que Ayrton abandonou uma das reuniões como forma de protesto contra decisões dos comissários que eram injustas não somente para ele, mas também para os outros pilotos.
E mesmo se tratando de um documentário, Senna é editado de modo a parecer um filme de ficção, com um mocinho de um lado e alguns vilões do outro. Neste caso, os vilões são Alain Prost e Jean-Marie Balestre (presidente da FIA na época), que proporcionam duelos tensos e interessantíssimos com o protagonista do embate.
E mesmo se tratando de um documentário, Senna é editado de modo a parecer um filme de ficção, com um mocinho de um lado e alguns vilões do outro. Neste caso, os vilões são Alain Prost e Jean-Marie Balestre (presidente da FIA na época), que proporcionam duelos tensos e interessantíssimos com o protagonista do embate.
Outro ponto positivo de Senna é a decisão de mostrar algumas corridas como se elas estivessem acontecendo ao vivo, na tela. Não há como conter a emoção de ver Ayrton vencendo novamente, incendiando a torcida no Brasil, sendo alavancado ao Olimpo dos pilotos de corrida.
O filme foca pouco na vida pessoal de Ayrton, e é muito econômico ao falar das aventuras amorosas do piloto, o que é excelente, porque deixa mais tempo para o que realmente importa: mostrar a genialidade que Ayrton tinha quando estava no volante de uma Lotus, ou uma McClaren, ou uma Williams.
E como todos da minha geração se lembram de onde estavam naquele fatídico 1º de maio de 1994, o momento mais emocionante do filme é quando presenciamos mais uma vez a cena que gostaríamos de cortar de nossas memórias. A curva Tamborello, no circuito de Ímola, Itália. Mas não estamos falando de uma ficção. Na vida real, os ídolos morrem jovens. E as manhãs de domingo nunca mais foram as mesmas.
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