Nas últimas semanas tenho tido contato com várias séries britânicas que me chamaram a atenção. E posso dizer que não entendo o fato de a TV brasileira não exibir tais séries por aqui. Em se tratando de dramas policiais, os ingleses até superam os americanos, com personagens críveis, roteiros imprevisíveis e atuações viscerais. Escolhi alguns destes programas para falar a respeito e recomendar. Aí estão eles:
Wallander - estrelada por Kenneth Brannagh (diretor de Thor), a série policial da BBC, remake de um programa sueco, conta a história de Kurt Wallander, inspetor da polícia de Ystad, na Suécia. Kurt é um detetive passional, que se envolve intimamente com seus casos, como se cada assassinato que ele investiga fosse de alguém de sua família. O inspetor não tem soluções mirabolantes, nem seus casos são resolvidos de modo mágico, com a utilização de artifícios tecnológicos saídos de séries do gênero "fantasia policial", como CSI. Wallander usa sua intuição, investiga sem sair da realidade, e muitas vezes segue as pistas erradas - isso, afinal, acontece em qualquer força policial do mundo. Recentemente separado da mulher, ele tem como companhia sua filha e vive um relacionamento conturbado com seu pai, um artista plástico que não aceita o fato de seu filho não ter seguido sua profissão.
A atuação de Kenneth Brannagh é digna da tradição shakesperiana do ator, com camadas de sentimento e emoção. Wallander é um homem que se vê sem esposa e precisa aprender a lidar com isso. E assim o faz com muita dedicação ao trabalho.
Com duas temporadas até o momento, contabilizando seis episódios de 90 minutos, Wallander é uma das melhores coisas a surgir na televisão em um muito tempo. Vale a pena descobrir. A série foi lançada no Brasil em DVD, pela LogOn.
Sherlock - descrita como a modernização dos clássicos contos detetivescos de Arthur Conan Doyle estrelados pelo mais brilhante dos detetives, Sherlock é um primor em sua realização. São três episódios de 90 minutos cada, na primeira temporada, tendo obtido sucesso absoluto de audiência na tevê inglesa. Logo no primeiro episódio, somos apresentados a Watson (Martin Freeman, protagonista de O Hobbit), um médico veterano de guerra que passa a dividir um apartamento com um excêntrico detetive particular, Sherlock Holmes (Benedict Cumberbatch, incrível). A princípio Watson odeia o futuro colega de apartamento, mas logo surge uma amizade entre os dois, à medida que ele descobre a genialidade quase sobrenatural do rapaz.
Usando recursos interessantes para trazer os livros de Conan Doyle para o século XXI, a série logo introduz o arquiinimigo de Sherlock, Moriarty, deixando os espectadores na expectativa pela sua continuidade. Isso, porém, é uma incógnita, uma vez que Martin Freeman deve passar dois anos ocupadíssimo como Bilbo Bolseiro, nas filmagens de O Hobbit, megaprodução em duas partes que Peter Jackson e Guillermo del Toro estão produzindo.
OK, nós queremos (muito) ver O Hobbit, mas não seria nada mal ter uma nova temporada de Sherlock. Espero que isso aconteça. No Brasil, Sherlock não tem nenhuma previsão de lançamento.
Luther - nenhuma série policial é tão intensa quanto Luther, protagonizada por Idris Elba (de The Wire), no papel de John Luther, um detetive da polícia metropolitana de Londres que passou sete meses suspenso por ter se envolvido na morte de um suspeito que ele investigava. Durante esse tempo afastado, Luther passou por uma grave depressão e uma consequente internação em um hospital. Ao ser readmitido na polícia, o detetive demonstra sua inteligência e o modo severo com que lida com o crime. Além de ter de lidar com toda a tensão do trabalho, Luther ainda precisa salvar seu casamento. Sua esposa, Zoe (Indira Varma, de Roma) não aceita viver mais com um homem tão inconstante e obsessivo.
Luther traz uma linha tênue entre o bem e o mal, mostrando o protagonista iniciando uma perigosa amizade com uma possível assassina, a astrofísica Alice Morgan (Ruth Wilson, de O Prisioneiro). Nenhum personagem na série é perfeito, e cada episódio (são seis, na primeira temporada) mostra um pouco mais as imperfeições dos colegas de Luther e dele mesmo, até o final arrebatador e absolutamente chocante.
A segunda temporada deve ser exibida este ano na BBC One, mas serão apenas dois episódios de duas horas de duração cada. Isso porque Idris Elba passou a ser cogitado para muitos papéis em Hollywood, depois de mostrar uma intensidade dramática como poucos atores da atualidade. Elba poderá ser visto em Prometheus, de Ridley Scott, além de ter atuado como o deus nórdico Heimdall, em Thor. O ator ainda participou da série The Big C, como o amante da protagonista vivida por Laura Linney.
Tudo isso é apenas o começo. Se depender da reputação que Elba conquistou por Luther, ele ainda terá muitos trabalhos de destaque em sua carreira. Ainda bem.