Novo filme de Alexander Payne depois de 7 anos é obra melancólica e bela
A última vez que vimos um filme de Alexander Payne foi em 2004, quando o diretor lançou Sideways - Entre Umas e Outras, comédia etílica sobre homens abraçando a maturidade. De lá para cá o diretor dirigiu o piloto da série da HBO Hung e participou de Paris, Te Amo, uma coletânea de curtas sobre a Cidade-Luz. A espera valeu a pena. Com Os Descendentes, Payne revela um lado do Havaí praticamente desconhecido do grande público, a vida cotidiana das pessoas que vivem por lá e têm laços ancestrais com o belo arquipélago do Pacífico. E sim, todo mundo por lá usa as tais camisas havaianas, com estampas floridas e coloridas!
O sucesso do filme, porém, não poderia ser explicado apenas por seu diretor. A presença de George Clooney como protagonista só colabora para que Os Descendentes seja ainda mais obrigatório na lista dos filmes para ver este ano. E a atuação do galã aproxima-se da perfeição. Clooney é Matt King, advogado e um dos herdeiros de uma enorme faixa de terra litorânea do arquipélago. Ele é descendente de uma princesa havaiana que se casou com um missionário do continente, e sua vida anda conturbada, por duas razões: a primeira (e mais importante para o roteiro) é o fato de sua esposa estar em coma depois de um acidente de barco; a segunda é a iminente venda da terra de sua família, que irá alterar toda a rotina da ilha, com a construção de resorts de luxo e bairros residenciais de alto padrão no solo virgem que ele herdou.
Com o coma da esposa, Matt precisa aprender a lidar com suas duas filhas, Scottie (Amara Miller) e Alexandra (Shailene Woodley, iluminada), que sempre viveram à sombra da mãe e não tinham muita atenção do pai ausente. O desafio que Matt enfrente para se reaproximar das filhas é o centro da história, mas o roteiro também abre espaço para discussões sobre o apego às tradições e a efemeridade da vida.
Lindamente filmado pelo diretor de fotografia Phedon Papamichael, as paisagens do Havaí estão no filme, mas não permitem que a produção se resuma a um lindo cartão postal; na verdade, diante da realidade de hospitais e tensas reuniões familiares, o cenário paradisíaco assume um certo ar melancólico, triste até. A trilha sonora, inteiramente composta de canções havaianas, tem a função de conectar o público com a intensa ligação que o povo do arquipélago tem para com sua terra e suas raízes.
Indicado a cinco Oscar (incluindo Melhor Filme e Ator para George Clooney), Os Descendentes não deve levar muitos prêmios da Academia - a concorrência com O Artista é grande e difícil - mas certamente o filme de Alexander Payne não passará despercebido do coração do público.
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