Albert Nobbs é daqueles filmes que se tornam a paixão da vida de um ator, a ponto de ser bancado pelo ator ou atriz que se apaixonou pelo projeto. Foi assim com Robert Duvall e seu O Profeta, Angelina Jolie e sua estreia na direção em 2011 com In the land of blood and honey e muitos outros. Glenn Close fez quase tudo neste filme: além de estrelar, ela co-escreveu o roteiro, escreveu a letra da canção-tema e ainda co-produziu. Tem dinheiro da atriz em Albert Nobbs, que conta a história de uma mulher que durante 30 anos se fez passar por homem para poder trabalhar como mordomo e juntar dinheiro para abrir uma tabacaria, o sonho de sua vida.
O filme começa mostrando o dia a dia de Albert Nobbs (Glenn Close), sua dedicação e extrema discrição no lidar com os outros criados do hotel cravado no centro de Dublin. Albert não interage com ninguém, não troca mais do que duas palavras ao se comunicar com os colegas de trabalho, nem se interessa pela vida dos excêntricos hóspedes do hotel. Tudo isso para que nada atrapalhe seu disfarce, que em 30 anos nunca foi notado, sequer suspeitado. Noite após noite, depois que o expediente se encerra, Albert conta as gorjetas recebidas e as guarda debaixo de uma tábua solta do assoalho de seu pequeno quarto no hotel. Tudo vai bem, e seu disfarce está garantido. Até o dia em que a patroa de Nobbs resolve fazer uma pintura em alguns cômodos do prédio, e contrata Hubert Page, um pintor altivo e competente em sua função. O problema é que não há quartos vagos para empregados, e Page precisa dormir no quarto de Albert, que vê ameaçado seu segredo, e se desespera.
Há uma pequena surpresa reservada para Albert (que eu não vou revelar aqui - sem spoilers neste blog), que se tornará ponto-chave no decorrer da história, durante a qual o mordomo se apaixonará, criará uma forte amizade e caminhará para um final com tons imprevisíveis.
O pequeno filme de Rodrigo García (Coisas que eu poderia dizer só de olhar para ela, de 1999) é um retrato das difíceis condições enfrentadas pelas mulheres nos últimos anos do século 19, especialmente aquelas relegadas à vida de serviçais, sem nenhuma perspectiva de vida além da que aponta para um futuro mergulhado na rotina do trabalho doméstico. Pode-se (e deve-se) especular que o filme carece de um ritmo mais ágil, com um desenvolvimento melhor de alguns personagens - o playboy gay vivido por Jonathan Rhys Meyers poderia ser mais explorado pelo roteiro, bem como o médico (Brendan Gleeson). Ainda assim, o filme envolve o espectador com competência, muito embora o ponto realmente digno de nota - e de uma indicação ao Oscar - seja realmente a atuação magistral de Glenn Close, que aqui faz o papel de sua vida, alternando a tranquilidade do disfarce com o desespero de ver a possibilidade de seu alterego ser desmascarado; é tocante a cena em que Nobbs revela não lembrar seu nome quando era mulher. Se a indicação de fato vier, será merecida. Close se coloca como forte concorrente ao prêmio maior que uma atriz pode receber, em um ano que a disputa pode envolver nomes como Meryl Streep (A Dama de Ferro) e Viola Davis (Histórias Cruzadas). A briga vai ser boa.
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