5x Favela, Agora por Nós Mesmos

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Nos anos 60, um grupo de jovens cineastas coordenado por Leon Hirszman realizou Cinco Vezes Favela, uma antologia de cinco curtas passados nos morros e subúrbios cariocas. Quase 50 anos depois, 5x Favela, Agora por Nós Mesmos propõe uma nova visão da mesma ideia dos diretores do Cinema Novo da primeira produção, desta vez coordenados por Cacá Diegues. A diferença está nos criadores das histórias, que desta vez são geradas dentro das próprias comunidades, com a direção e o roteiro a cargo dos próprios moradores de favelas. A ideia é que o protagonismo total de toda a obra seja deles.
O resultado final é interessante e agradável, o que faz de 5x Favela um exemplar honroso em meio a uma triste cinematografia brasileira, repleta de comédias rasas e bobas, carregadas de atores globais.
A cada história o que se vê são as vidas dos moradores representadas ali, em cena. 
Em Fonte de Renda, um jovem consegue, a duras penas, a aprovação no vestibular de direito de uma universidade pública. Mas isso é apenas o começo, pois ele descobre a dificuldade que sente o pobre para manter-se estudando: transporte, alimentação, apostilas, livros, etc. Para bancar seus gastos, ele acaba se tornando um fornecedor de drogas dentro da faculdade.
Arroz com Feijão é uma dramédia com uma fina ironia. Dois meninos resolvem buscar conseguir dinheiro trabalhando nas ruas para que um deles possa comprar frango para sua família. A ironia está na cena em que depois de conseguirem o dinheiro necessário, os meninos da favela são assaltados por crianças de classe média, estudantes de uma escola particular. O melhor da antologia.
Concerto de Violino é uma história trágica, com tons shakesperianos. É o conto de três amigos de infância que seguiram caminhos diferentes na vida. Um deles tornou-se um policial corrupto, o outro virou traficante e a menina sonha em seguir carreira como violinista. Suas vidas se cruzarão em um último e dramático movimento.
Deixa Voar retrata com fidelidade imensa as tardes de pipa no subúrbio. É um retrato interessante, principalmente para quem sabe do que se trata. É o mais fraco dos curtas, por não trazer empatia junto ao público. Para quem não mora no Rio de Janeiro, como o público nordestino, fica difícil entender o fascínio que as pipas exercem sobre a juventude pobre carioca. Ainda assim, o final do curta traz uma bela mensagem de integração.
Acende a Luz é um relato de como o Estado deixa os moradores das favelas à sua própria mercê. Em plena véspera de natal, um grupo de moradores prepara sua festa sem energia nem água encanada. Um bem intencionado técnico da companhia de eletricidade tenta retomar a luz do local, e acaba se solidarizando com a situação da comunidade.
Em cada curta nota-se o esforço dos realizadores por imprimir com realismo e lirismo o duro cotidiano de quem vive nas favelas mas não se entrega à violência, tendo que se virar para levar adiante seus sonhos de simplesmente serem felizes. Muita leveza, graça e sensibilidade estão presentes nesta obra de alta qualidade.
Um filme que vale (muito) a pena.

1 Comente aqui!:

  1. Ester Malafaia disse...:

    Gosto muito desse filme. Lembro q o assisti num feridão com minha mãe no cinema... fomos sem saber q filmes estavam em cartaz... e acabamos decidindo por assisti-lo. Não houve arrependimento. Realmente, é ótimo! Vou ver de novo... rsrsrs...

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