Era uma vez...

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O cinema feito no Brasil nos últimos 10 anos tem retratado com bastante frequência a realidade das favelas urbanas. Desde que Fernando Meirelles colocou esses aglomerados de casas humildes e barracos no mapa cinematográfico mundial com Cidade de Deus todo cineasta quer ter sua fatia de "contribuição" na divulgação de uma comunidade muito diferente do que se vê no asfalto, com leis e até um sistema financeiro e moral próprios. De Cacá Diegues (Orfeu e O Maior Amor do Mundo) a Bruno Barreto (no criticado Última Parada: 174), filmar no morro virou moda. Mas não dá para dizer que isso é algo negativo, uma vez que a favela faz parte da vida de todo mundo que mora em uma grande cidade, direta ou indiretamente. Isso ficou bem claro no fenômeno pop Tropa de Elite, que mostra jovens de classe média usuários das drogas que são vendidas pelos traficantes, que consequentemente abastecem seu arsenal com o dinheiro das vendas. Não tem como escapar dessa realidade.
Mas mesmo com tal proximidade tão clara ainda permanece um distanciamento latente entre os moradores do asfalto e as comunidades do morro (note que quem mora no asfalto é "morador", mas quem vive na favela é "comunidade"). Este afastamento é o que move a história de Era Uma Vez..., novo filme de Breno Silveira (Dois Filhos de Francisco). Dé (Thiago Martins) é um jovem morador do Morro do Cantagalo que trabalha em um quiosque na praia de Ipanema. Em frente ao quiosque vive Nina (a estreante Vitória Frate), uma menina órfã de mãe que está precisando de uma razão para viver. Há tempo que Dé observa Nina quando ela aparece na janela de seu imenso apartamento. Numa dessas situações tramadas pelo destino, os dois acabam se conhecendo e se apaixonando.
Mas o filme, assim como a vida, não traz soluções fáceis nem finais felizes. Afinal, o que se tem nesta trama é uma espécie de Romeu e Julieta no Rio de Janeiro, uma cidade que se encontra partida, dividida, rachada. À medida que os minutos passam o espectador vai percebendo que não terá seu final hollywoodiano, cheio de saídas e salvações de última hora. E a obra de Breno Silveira vai se mostrando consistente, verossímil, uma história de amor tocante e trágica, mas acima de tudo, uma mensagem da necessidade urgente do nascimento de uma sociedade mais justa, tolerante e que ofereça oportunidades a todos, sejam do morro ou do asfalto.

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