Não houve diretor que melhor compreendesse a alma jovem do que John Hughes. Ele foi o diretor de verdadeiros "clássicos" da Sessão da Tarde, como A Garota de Rosa Shocking, Gatinhas e Gatões, Esqueceram de Mim e este Clube dos Cinco, o filme de toda uma geração.
A história se passa inteiramente em um único sábado, em uma high-school americana, para onde vão cinco adolescentes passar o dia em "detenção", uma espécie de castigo para alunos que aprontaram além da conta durante a semana. Cada um deles representa um estereótipo dos adolescentes retratados no cinema (e talvez mais reais do que imaginamos): Andrew (Emilio Estevez) é o atleta, Claire (Molly Ringwald) é a menina popular, rica, bonita e virgem, Brian (Anthony Michael Hall) é o nerd, estudioso e sempre tirando as melhores notas, Allison (Ally Sheedy) é a garota esquisita, considerada uma "freak", para citar uma gíria americana, e Bender (Judd Nelson) é o garoto rebelde, problemático, eternamente culpado por tudo de ruim que acontece na escola.
Durante todo o sábado eles terão que conviver uns com os outros, e descobrem muito mais do que estampam seus rótulos pré-estabelecidos. Na verdade, não passam de adolescentes como todos os outros, com problemas de aceitação, sofrendo pressão dos pais para obterem boas notas, serem atletas vencedores, ou simplesmente superarem o péssimo ambiente familiar que lhes é oferecido.
Clube dos Cinco (The Breakfast Club, EUA, 1985) marcou uma multidão de jovens que até hoje idolatram o filme como uma espécie de manifesto contra a falta de compreensão dos adultos, mas também estabeleceu padrões para futuros filmes que abordassem o tema da transição para a vida adulta. A genialidade de John Hughes está presente nos diálogos sensacionais e cheios de reflexão, mas também pode-se ver na maneira como ele conduz a história, que apesar de estar limitada a um único cenário, não perde em agilidade e interesse do público.
Trata-se de um filme inesquecível. Se serve como um exemplo disso, lembro-me de tê-lo visto em algum momento no começo dos anos 1990, no Corujão da Globo e nunca mais depois disso, até hoje, quando o filme foi exibido no canal pago Telecine Cult. As cenas do grupo de adolescentes problemáticos correndo pelos corredores da escola, os diálogos marcantes entre os cinco durante uma espécie de "jogo da verdade", tudo isso me marcou como adolescente na época e ainda marca.
Depois do sucesso
O elenco de Clube dos Cinco, pelo menos em sua maior parte, não foi muito visto no cinema depois da década de 1980. Dos cinco, apenas Anthony Michael Hall pôde ser visto em algumas séries de destaque, como em The Dead Zone (conhecida no Brasil como O Vidente). John Hughes dirigiu apenas oito longas, mas ele seguiu escrevendo roteiros para comédias como a série Esqueceram de Mim, Beethoven, Dennis - O Pimentinha e 101 Dálmatas.
Hughes faleceu em 2009, sem nunca receber um Oscar. Sua obra foi homenageada em 2010, na cerimônia de entrega do Oscar daquele ano. Mas prêmios à parte, Hughes permanece vivo, como o cineasta que mais entendia a mente e a alma dos jovens, sejam aqueles dos anos 1980, ou de qualquer outra década.