0

Janela Indiscreta (da Série 1001 Filmes)

Marcadores: , , , , ,

Um dos maiores sucessos do cineasta Alfred Hitchcock, Janela Indiscreta (Rear Window, EUA, 1954) ainda não perdeu seu charme e mantém uma legião de fãs em todo o mundo. L.B. Jeffries é um repórter fotográfico que está preso em uma cadeira de rodas há semanas por ter quebrado uma perna. Sem ter muito o que fazer e tendo como companhia somente Stella, sua enfermeira, e Lisa, sua noiva relutante, Jeffries passa os dias observando os vizinhos que moram no prédio em frente ao seu, até o momento em que começa a desconfiar que um dos vizinhos espionados assassinou sua esposa e se desfez do cadáver. É claro que as coisas podem não acabar tão bem.
James Stewart é o protagonista, em mais uma bem sucedida colaboração com Hitchcock. No papel de Stella, a atriz Thelma Ritter, entrega uma enfermeira com um maravilhoso senso de humor negro. Coube a Grace Kelly, em um de seus últimos papéis em Hollywood antes de se tornar a princesa de Mônaco, a personagem de Lisa, uma moça rica que é completamente apaixonada por L.B., mas ainda não ouviu do namorado nenhuma proposta de casamento.
James Stewart e Grace Kelly - lendas do cinema
Alfred Hitchcock recriou todo o ambiente dos prédios em estúdio, o que possibilitou maior liberdade para que o mestre do suspense pudesse estabelecer todo um ecossistema para manuseá-lo à vontade. Enquanto Jeffries bisbilhota os vizinhos, o cineasta faz do público cúmplice na espionagem, tornando todos nós verdadeiros voyeurs. Interessante como cada vizinho tem características psicológicas desenvolvidas; embora se saiba pouco a respeito deles, o que é revelado sobre cada um mostra detalhes que transformam o voyeurismo em algo palatável, quase um fetiche nunca satisfeito. Todos os sons ambiente, incluindo a trilha sonora, vêm das janelas e da rua observadas por L.B. Jeffries.
Sendo um verdadeiro clássico, Janela Indiscreta permanece imortal e amado por muitas pessoas, tendo recebido homenagens periodicamente no cinema. Em 1998, o ator Christopher Reeve, o Superman clássico, preso a uma cadeira de rodas com tetraplegia, refilmou o clássico, embora sem o charme do original. Em 2007 foi a vez de J.B. Caruso fazer sua homenagem, com Paranoia, suspense com Shia LaBeouf e David Morse, que bebe da fonte hitchcockiana descaradamente para realizar um filme bem bacana, com um resultado final muito satisfatório.
Mas no fim das contas, não há nada como assistir o Janela Indiscreta original, com todo o talento de James Stewart, a beleza elegante de Grace Kelly, e a genialidade de Hitchcock.

Em tempo: Hitchcock não perde a oportunidade de aparecer em cena em quase todos os seus filmes; neste, ele aparece brevemente no apartamento do pianista, ouvindo a melodia e quase encarando o público. Sensacional.

4

Enterrado Vivo

Marcadores: , , , ,

Estreia de Rodrigo Cortés como diretor é um estudo sobre o desespero
Se os cartazes que divulgaram Enterrado Vivo (Buried, EUA/Espanha, 2010) já chamavam a atenção para um filme que poderia ser um dos melhores do ano, a experiência de assistir a obra pronta não frustra expectativas. Apesar de se passar inteiramente com seu protagonista dentro de um caixão velho, em nenhum momento Enterrado Vivo cansa o espectador. Trata-se de um thriller competente e original, repleto de suspense e com a capacidade de manter vivo o interesse do público a cada frame.
Ryan Reynolds (que em breve será enfim um astro com Lanterna Verde) é Paul Conroy, um civil que dirige caminhões no Iraque, que acorda de um desmaio e está com as mãos amarradas dentro de um caixão, sem lembrar como foi parar ali. Ele apenas se recorda que o comboio onde estava foi atacado por insurgentes locais, e que alguns de seus colegas foram mortos. Logo ele descobre que tem um celular junto de si, quando recebe a ligação de seu sequestrador, exigindo cinco milhões de dólares até as 21:00, ou Paul será abandonado à própria sorte. A seguir acompanhamos o desespero de Paul à medida em que seu tempo, seu oxigênio e a bateria do celular chegam ao fim.
O espanhol Rodrigo Cortés, em sua estreia no cinema, utiliza de várias câmeras e uma edição perspicaz para não permitir que o tédio tome conta de seu filme. Foram usadas seis caixas para captar todas as cenas, e a trilha sonora permite que o drama e o desespero de Paul sejam intensificados. Mas tudo isso seria em vão se a atuação de Ryan Reynolds não fosse simplesmente sensacional. A sensação de pavor em seus olhos é notável e envolve o público como poucos filmes de suspense.
Sem fazer uso de artifícios-clichê comuns em Hollywood, Cortés conseguiu realizar um filme perturbador, que toca em assuntos delicados, como a utlização de civis em missões de reconstrução no Iraque. E o subir dos créditos não deixa ninguém aliviado. Pode acreditar: Enterrado Vivo é o filme mais interessante e incômodo de 2010. E o mais claustrofóbico da década.

1

Animações que você vai gostar de ver

Marcadores: , , , , ,

Como alguns que me conhecem devem saber, eu amo animações. As boas, é claro. Diferente do que alguns podem pensar, nem todas me agradam. Lembram de Dogão? Pois é. Mas os filmes animados lançados este ano, em sua maioria, me agradaram bastante. Aqui estão dois deles que ainda não havia comentado:
Meu Malvado Favorito - primeiro filme do novo estúdio Illumination Entertainment, este é um clássico exemplo de escolhas acertadas que resultaram em uma animação acima da média e incrivelmente divertida. A história de Gru, o antigo "maior vilão do mundo", é muito legal. Diferente da série Shrek, na qual ninguém se importa mesmo com o protagonista, em Meu Malvado Favorito Gru é um cara malvado até na hora de comprar um café; se a fila está muito grande, ele simplesmente saca uma arma congelante e coloca todo mundo à sua frente abaixo de zero, só para furar fila! Seu veículo, enorme, destrói ruas, casas, árvores e tudo o mais o que vier pela frente, sem o menor pudor. E ele já roubou o painel eletrônico de Wall Street! Tudo com a ajuda de seus Minies, bichinhos amarelinhos responsáveis por algumas das melhroes piadas do filme. Mas seus dias como maior vilão da terra estão chegando ao fim, pois um novo ser maligno surge: o Vetor, um vilão mais jovem que rouba as pirâmides do Egito. Para superar seu mais novo desafeto, Gru decide roubar a lua (!), mas para isso precisa da arma encolhedora que Vetor criou. É quando entram em cena três lindas órfãs vendedoras dos doces que Vetor tanto gosta. Gru as adota, elas são uma gracinha, ele descobre como é bom ser pai e o resto todo mundo já sabe.
Sem querer se levar tão a sério, o filme conquista crianças e adultos extamente por ser muito divertido e inventivo; ainda assim, o roteiro ainda entrega um aspecto psicológico, quando descobrimos o que levou Gru a ser tão malvado. E ainda tem emoção de sobra  no final. Se você assistir na versão legendada, confira o trabalho excelente de Steve Carell fazendo a voz de Gru. No mais, compre a pipoca e aproveite!
A Lenda dos Guardiões - dirigido por Zack Snyder em parceria com o estúdio Animal Logic (que fez Happy Feet), A Lenda dos Guardiões tem nas imagens seu grande trunfo. Cada frame deste filme é simplesmente lindo. A animação beira a perfeição, mostrando o cuidado que o estúdio teve na renderização das penas das corujas ao voar. Muito legal mesmo. As batalhas aéreas entre corujas também merecem destaque. São empolgantes e não confundem o espectador, sendo possível distinguir os personagens em plena luta, mesmo sendo todos corujas.
Esse também é um diferencial do filme, afinal, quem já assistiu um filme estrelado por corujas? A Lenda dos Guardiões conta a história de Soren, uma jovem coruja-macho que sonha com as histórias contadas por seu pai sobre os lendários Guardiões de Ga'Hoole, que combateram uma espécie de corujas conquistadoras e crueis, para libertarem seu povo. Seu irmão, Kuddle, não acredita nessa história, até que no dia em que estão aprendendo a voar, os dois são sequestrados pelos Puros, a tal raça malvada que planeja dominar o mundo. Nesse ponto o roteiro começa a ficar um tanto confuso, ao não explicar bem o que são as tais partículas mágicas que os Puros desejam usar para derrotar os Guardiões de Ga'Hoole. Talvez com pressa de mostrar a ação das batalhas aéreas, Snyder não desenvolve a contento a transformação de Kuddle, com tudo acontecendo em cerca de um dia: traições, aprendizado de vôo, fuga e resgate. Mas na verdade tudo isso perde um tanto seu valor quando se admira o maravilhoso trabalho que o estúdio teve em desenvolver todo esse mundo dominado por corujas. É tudo uma festa aos olhos, desde a árvore que serve de ninho para Soren e sua família, passando pelo sinistro covil dos Puros até a árvore de Ga'Hoole, onde vivem os Guardiões. No quesito belas imagens, A Lenda dos Guardiões é sem dúvida o melhor filme do ano.

2

Deixe Ela Entrar

Marcadores: , , ,

Conto vampiresco made in Suécia é tudo o que Crepúsculo gostaria de ser
Histórias de vampiro não são novidade em lugar nenhum do mundo, especialmente quando se trata de cinema. Mas Deixe Ela Entrar (Låt den Rätte Komma In, Suécia , 2007) trata o tema com o rigor necessário, sem ceder a roteiros formulaicos feitos sob medida para a aceitação de Hollywood, e ainda assim conseguiu arrebatar mais de 60 prêmios em festivais em todo o mundo e ainda chamou a atenção da capital do cinema a ponto de um remake americano já ter sido produzido (e ter sido elogiado da mesma maneira).
Oskar é um menino solitário, que sofre bullying de alguns meninos da escola. Obcecado por crimes, ele coleciona notícias policiais dos jornais. Ele não tem amigos, até o dia que uma nova vizinha lhe chama atenção: ela anda pelo pátio do prédio à noite, em pleno inverno sueco, sem agasalho; tem um cheiro estranho; e fechou as janelas do seu apartamento com papelão. Oskar ainda não sabe, mas a tal menina é uma vampira e tem doze anos eternamente. O sentimento que surge entre os dois irá se transformar em amor, e o preço por tal amor será cobrado com sangue.
Mas não estamos falando de uma vampira má, que tem prazer em matar pessoas. Eli é a clássica heroína que mata porque precisa, porque não tem escolha.
O diretor Tomas Alfredson mostra outra subtrama no roteiro, que mostra uma vítima de Eli que sobrevive e começa a se tornar vampira igualmente. Esta história à parte serve para que o público saiba quão difícil é a vida quando se começa a sentir sede e fome de sangue. Trata-se de um didatismo, mas que não prejudica em nada a história principal. História que não tem pressa em se desenvolver. Há momentos de suspense, como os bons filmes de terror, mas também há momentos de ternura, como aqueles vividos por Oskar e Eli em sua descoberta do amor.
Deixe Ela Entrar é filmaço, desses para assistir duas ou três vezes, até que se absorva todos os caminhos e detalhes contidos. Uma pequena obra-prima, que merece ser descoberta.

0

A Rede Social

Marcadores: , , , , ,

Quando David Fincher (diretor de Seven, O Curioso Caso de Benjamin Button e Zodíaco) anunciou que seu próximo filme seria a história da criação do maior site de relacionamentos do mundo, o Facebook, eu - como a maioria das pessoas - não botei fé de que algo interessante poderia sair dessa ideia. Mas Fincher tem muito crédito com os cinéfilos, afinal o cara realizou alguns clássicos modernos, já citados anteriormente. Por isso foi-lhe dado um voto de confiança.
O resultado final, se não é totalmente satisfatório, pelo menos não mancha a brilhante carreira do cineasta. Contar a história de Mark Zuckerberg, o mais jovem bilionário da história mostrou-se até uma boa escolha; decisão que teve um bom empurrão do roteirista Aaron Sorkin. Com seu script enxuto e repleto de boas falas, Sorkin entrega um trabalho coeso e consistente.
O filme narra a história de Mark Zuckerberg (Jesse Einsenberg, de Zumbilândia) que juntamente com seu amigo Eduardo Saverin (Andrew Garfield, o novo Homem-Aranha dos cinemas) monta o Facebook, que inicialmente tinha o artigo "the" à frente do nome atual do site. A ideia inicial de Mark era conectar os estudantes da Universidade Harvard, mas logo o projeto cresce e alcança outras escolas pelos EUA e depois na Europa. Interessante mostrar a decadência da amizade entre Mark e Eduardo, onde o último ainda acredita que tem no outro realmente um amigo, enquanto Mark simplesmente começa a ignorar seu parceiro de criação.
O roteiro opta por contar a história a partir de uma audiência em que Eduardo e outros estudantes alegam ter direito a parte do site. Por meio de flashbacks percebemos a interferência decisiva de Sean Parker (Justin Timberlake, muito bem), criador do site de downloads de músicas Napster, na expansão acelerada do Facebook, interferência esta que foi também determinante para a dissolução da sociedade entre Mark e Eduardo.
Hoje, o Facebook tem mais de 500 milhões de usuários em 207 países, e o site vale 25 bilhões de dólares.
É um bom filme, apesar de não concordar com o burburinho pré-Oscar, que o qualifica como um dos favoritos a ganhar algumas estatuetas. Eu apostaria no prêmio de Roteiro Adaptado, e só.
Ao final, a reflexão que fica é: será que vale a pena perder os amigos em nome de tanto dinheiro? Quanto, afinal, vale a solidão?
Só por fazer com que venhamos a pensar a respeito disso, A Rede Social vale a pena ser visto.

0

Leonera

Marcadores: , , , ,

Não é de hoje que escrevo aqui sobre o cinema argentino, sobre como este tem sido vibrante, empolgante e bem sucedido em tocar o coração de quem o descobre. Com Leonera (Argentina, 2008), de Pablo Trapero, a regra não encontra sua exceção. Ao contar o drama de uma presidiária para ficar com seu filho, Trapero demonstra mais uma vez sua paixão por seus personagens. Se em Abutres (2010) a personagem de Martina Gusmán estava presa ao seu trabalho no hospital, em Leonera sua personagem, Júlia, é prisioneira em seu sentido literal. O espectador não tem certeza se ela é culpada ou inocente, o que permite com que o roteiro se concentre estritamente em uma situação desconfortável para quem está preso: Júlia está grávida. Na Argentina as presidiárias podem ficar com seus filhos na prisão até estes completarem 4 anos. Júlia vê seu filho nascer e crescer e o tempo está se esgotando. A performance de Martina Gusmán como a apaixonada mãe Júlia é de cortar o coração, tamanha a entrega com que a atriz desempenha seu papel.
Vale também registrar a boa participação de Rodrigo Santoro no papel de Ramiro, um dos envolvidos no crime de Júlia, embora nunca fique claro como aconteceu o assassinato. Não que isso seja realmente importante, já que o foco do filme de Trapero é simplesmente contar uma história de um amor inexplicável, amadurecimento e força. E nisso ele se sai muitíssimo bem.

4

Filmes jovens imperdíveis

Marcadores: , , , , ,

Hoje assisti dois filmes mais voltados para o público jovem lançados este ano. Como gostei dos dois, comento ambos:
A Mentira - Emma Stone está aos poucos se tornando a futura estrela jovem do cinema. Com filmes carregados de hype como Zumbilândia e Superbad - É hoje, a atriz vem se firmando mais e mais como uma promessa. Em A Mentira (Easy A, EUA, 2010), dirigido por Will Gluck, Emma interpreta Olive, uma adolescente no high-school - o Ensino Médio americano. Olive é uma menina comum, ninguém a nota, tem apenas uma amiga, e passa fins de semana inteiros enfurnada em seu quarto pintando as unhas e ouvindo a mesma música incessantemente. Tudo começa a mudar quando ela resolve inventar uma pequena mentira sobre ter perdido a virgindade. A história se espalha incontrolavelmente, e de repente ela se torna conhecida, embora não da maneira que imaginava. O roteiro tem sacadas muito interessantes, cenas que homenageiam clássicos juvenis dos anos 80 (como os filmes de John Hughes) e questionamentos típicos da idade, que certamente levarão muitos adultos a se conectarem com a protagonista. A atuação de Emma Stone é marcante, mas o elenco de apoio também está muito bem: Stanley Tucci e Patricia Clarkson como os pais de Olive estão muito engraçados, bem como Thomas Haden Church, no papel do professor favorito de Olive. Menos interessante é a participação de Lisa Kudrow (a Phoebe, de Friends), talvez por ter sido pouco aproveitada. Mas A Mentira é daqueles filmes sobre os quais ninguém espera nada, mas ao subir dos créditos, levam todos a pensar: "Uau! Acabo de ver um filme muito legal!"

Caindo no Mundo - Este é um filme dirigido por Ricky Gervais e Stephen Merchant, a dupla responsável por uma renovação no humor britânico para o mundo, afinal, os caras criaram a versão original de The Office. Em Caindo no Mundo (Cemetery Junction, Inglaterra, 2010), Gervais e Merchant decidiram dar um tempo na comédia irônica, porém rasgada, e deram mais espaço para um drama sobre a passagem para a idade adulta. Freddie Taylor (o ainda desconhecido Christian Cooke) é um dentre os muitos jovens moradores do bairro inglês de Cemetery Junction, um subúrbio pobre, onde não há muitas opções para o futuro. Sem querer terminar como o pai (o excelente Ricky Gervais), que trabalhou a vida inteira como operário, Freddie consegue emprego como vendedor de seguros, entrando em contato com um mundo inteiramente novo, de carros novos, gente esnobe e aparentemente feliz. Com seus amigos Bruce e Snork, Freddie deixa o paletó de lado e sai pela noite aprontando todas, sendo quem realmente é. Toda a abordagem do roteiro de Caindo no Mundo é fascinante. O contraste que o filme coloca entre a vida estável (emprego, casamento, aposentadoria) e a busca pelos sonhos é algo que Gervais/Merchant fazem muito bem. Se incluirmos o romance, os diálogos hilariantes entre o pai de Freddie e sua avó, e a emoção inesperada trazida pelo clímax, temos em Caindo no Mundo talvez o melhor filme inglês de 2010. Vale muito a pena.

Posts relacionados

Related Posts with Thumbnails