Frequentemente listado entre os melhores filmes da história, A Última Sessão de Cinema (EUA, 1971), do diretor Peter Bogdanovich, é de uma época em que as produções cinematográficas tinham muito mais a cara de seus diretores. Claro que havia as fórmulas elaboradas pelos estúdios para que um filme alcançasse o sucesso. Mas a década de 1970 mostrou aos executivos engravatados enfurnados em seus escritórios que algumas fórmulas que funcionavam até uma década atrás precisavam ser revistas.
Filmes como este se tornaram comuns nesta década: narrativas entrecortadas, finais emblemáticos e quase nunca "felizes" e liberdade de atuação foram algumas das características de muitos filmes produzidos nesta época que se tornaram clássicos. Obras-primas como O Poderoso Chefão, Taxi Driver e O Franco Atirador são fruto da liberdade que os estúdios passaram a dar aos cineastas, gente que de fato entende de cinema como arte, não apenas como um produto.
A Última Sessão de Cinema é um primor de cinema, realizado com paixão e marcado por uma entrega total nas atuações. Cybill Shepherd (foto) em seu primeiro papel, Jeff Bridges ainda jovem e já mostrando a que veio, e a performance marcante de Timothy Bottoms fecha o trio de protagonistas, jovens que vivem em uma cidadezinha no Texas nos anos 1950. Como se estivessem em um caixão, eles passam os dias presos nos limites da cidade, destinados a terem as mesmas vidas medíocres de seus pais. A descoberta do sexo, da tragédia e da desilusão amorosa permeiam todo o filme, que não tem uma trama propriamente dita, mas que reflete toda a angústia de uma juventude que conhece o mundo apenas pelo que vê na tela do único cinema da cidade, e está consciente de sua insignificância diante da sociedade.
Um filme magistral, narrado muito mais pelo silêncio do que por falas, mas que também possui diálogos marcantes sobre amores perdidos e chances desperdiçadas. Soberbo.