Inspirado na história do zoológico Dartmoor, um dos parques mais premiados do mundo, Compramos um Zoológico (We Bought a Zoo, EUA, 2011) é um desses filmes feitos para o público sair da sessão com um sorriso enorme, feliz por ter pago o valor do ingresso. Mas se engana quem pensa que a frase anterior é uma crítica a esse tipo de filme, quase um gênero do cinema, inaugurado na década de 30, quando Frank Capra criava clássicos como A Felicidade Não se Compra e Aconteceu Naquela Noite. Trata-se de uma constatação, a de que no final das contas, Cameron Crowe é um diretor especializado em feel-good movies. Foi assim com Jerry Maguire e Elizabethtown, e quase assim com Quase Famosos.
Verdade seja dita, se caísse nas mãos de um diretor menos talentoso, Compramos um Zoológico teria se transformado em uma comédia tola estrelada provavelmente por Eddie Murphy ou Adam Sandler, com um final que forçaria todo mundo a chorar, tamanha a pieguice - basta lembrar de A Creche do Papai e Click. Nas mãos de Crowe, porém, o filme deixa de lado a apelação chorosa e abraça o drama alegre de um pai e dois filhos; o pai, Benjamin Mee (Matt Damon), está lidando com a perda da esposa e mãe de seus filhos, acontecida há apenas seis meses, quando resolve largar seu emprego de jornalista especializado em artigos aventurescos em busca de um novo começo. Esse novo começo não poderia ser mais estranho: ele resolve comprar um zoológico, desativado há dois anos e mantido a duras penas pelo governo.
À medida em que tenta colocar o zoológico em ordem para a reinauguração no verão, Mee se depara com o maior desafio: o de criar seus dois filhos sozinho; ele precisa aprender a lidar com o distanciamento do filho e a necessidade de fazer feliz sua filha. Aliás, é importante que se destaque as atuações de Colin Ford e Maggie Elizabeth Jones como as crianças Mee. O primeiro mostrando toda a fragilidade e dificuldade contidas durante o crescimento e a segunda, uma doçura que vale o filme inteiro.
Há ainda o potencial envolvimento de Benjamin com Kelly Foster (Scarlett Johansson), a zeladora do zoológico, que poderia ser explorado pelo roteiro a ponto de o filme se tornar um drama romântico meloso, mas que na dose certa, tornou-se apenas um elemento da trama, que não chega a ofuscar o drama familiar que é o filme, de fato. É claro que fica um pouco difícil acreditar que Scarlett Johansson, musa de Woody Allen, a Viúva Negra em pessoa, seja uma mera zeladora de um zoológico falido; mas o talento da bela atriz até permite que o público acredite nisso.
Com uma trilha sonora interessante composta inteiramente pelo guitarrista e cantor islandês Jónsi, Compramos um Zoológico certamente não irá mudar a vida de ninguém. Mas ser completamente ignorado nas bilheterias não é o destino que podia ter tido o filme; a história é interessante, as atuações são corretas e os outros elementos (fotografia, trilha sonora, direção de arte) estão em seus devidos lugares. Um filme a ser descoberto.